quarta-feira, agosto 29, 2007

A grande dúvida

Essa era a terceira vez, que Fabricio olhava para o telefone em cima da mesa. Ou era o telefone ou era o relógio na parede. O tic tac das horas só fazia o incomodado rapaz pior. Não sabia o que poderia ser feito para reverter o episodio daquela tarde. Os fatos que ocorreram após, acabaram por limar tudo aquilo que ele esteve alimentando por dezenas de semanas.

Naquela fatídica manha de sábado, ao acordar, se espreguiçou como de costume, saiu pelo canto direito e sentou para bocejar. Foi aí que viu um relevo grande na cama e não eram as almofadas. Foi subindo os olhos que de remelas, saltaram para mais que abertos, ao ver enrolada na edredom com os cabelos revoltos e ruivos, sua prima Paula. Olhou para si e viu que só estava com a cueca samba canção. Levantou-se rápido. Foi chegando perto de Paula e percebeu que ela estava sem a parte de cima do que deveria ser um sutiã, uma camisa, um casaco, ou um sobretudo! Apavorou-se com o fato e foi no banheiro lavar o rosto. De lá ouviu uma conversa amigável de seu companheiro de apartamento conversando com alguém.

- Essa voz não me era estranha, disse para o espelho.

- Meu deus! gritou. Era Claudia, sua namorada, que tinha combinado de estar lá naquele horário.

Colocou a mão no espelho para pensar. Alguns segundos, colocou a cara de lado no espelho e começou a bufar fazendo o vidro embaçar. Que maldita hora para isso acontecer, pensou.

Não se lembrava de ter ido deitar com sua prima. Alias, o que sua prima estava fazendo em sua cama era um mistério. A prima que tanto gostava, como uma irmã, mas nunca desejada como mulher, postava-se deitada em sua cama. E se Claudia entrasse sem bater, como sempre fazia? Como explicarei algo, que ate para mim é uma surpresa? F-U-D-E-U, disse alto.

Ambos pararam de conversar, e Fabrício apressou-se para chegar na porta e trancá-la. Ouviu passos de Claudia vindo em direção ao seu quarto. Tentando abrir a porta, Fabrício foi ate a cama, tentar acordar Paula que dormia o sono dos anjos, se é que isso exista. Não conseguiu. Ela balbuciou algo impronunciável ou em mandarim. Que diferença faz? Não ia entender mesmo. Tentou novamente fazer com ela acordasse e saísse pela janela dos fundos. Mais uma vez, nada. Não teve outra, Fabrício subiu na cama e empurrou Paula para fora dela. Ouviu-se um estrondo. Claudia, logo perguntou:

- Fabrício, o que foi? Porque a porta está trancada, meu bem?

Fabrício sem reação, fala da mentirosa topada de pé que dera no box da cama. O fato de estar trancada não ia ter salvação se não colocasse o amigo e companheiro do apartamento na jogada.

- Nosso grande amigo da cozinha fez uma festinha para uns amigos do trabalho e para não ser incomodado tranquei. Já que esse pessoal é muito beberrão.

Enquanto falava isso, ia arrastando Paula para debaixo da cama, juntamente com o edredom.

- Perai, que já abro! Afobou-se em dizer, a caminho da porta.

Ao abrir, postou-se na porta e deu um longo abraço em Claudia, já pedindo desculpas pelo horário totalmente errada que acordara. Maldito despertador que só funciona nos dias de semana. Levando ela de volta a cozinha, notou que seu amigo percebera algo de estranho em suas feições. Como eram amigos há vários anos, logo percebeu que tinha alguma coisa no quarto que Claudia não poderia ver. Pediu licença, disse que ia ao banheiro, e foi ate o quarto de Fabrício verificar se havia algo de estranho.

Lá chegando observou a cama totalmente amarrotada com o edredom no chão, perto da janela. Foi levantar, já que o chão não estava tão limpo, devido a falta repentina da diarista que não aparecia há duas semanas. Olhando, tomou um susto. Viu Paula dormindo debaixo da cama de Fabrício. Sem pensar direito, resolveu arrastar a moça ruiva pelo chão ate sair do quarto de Fabrício. No caminho, não deixou de notar o belo par de peitos que a prima do amigo tinha. Nunca tinha percebido isso. Mas ficou feliz em descobrir.

No momento, que saía do quarto com o edredom, Fabrício percebeu o plano e tascou um beijo longo em Claudia, jogando-a contra a parede e imprensando seu corpo junto à geladeira. Ela, primeiro não gostou, mas depois cedeu pela diabrura feita pelo namorado. Enquanto isso, Paula era arrastada ate o outro quarto sem ao menos se mexer. Seu sono era tão pesado, que ninguém conseguia imaginar o que passou com a menina. Já em seu quarto, pegou a pelos braços e sentiu o odor forte de álcool que vinha de sua boca, cabelo e face. Logo soube que a prima de Fabrício bebera muito alem da conta. Também percebeu o desejo involuntário da prima pelo ate então primo Fabrício. Como estava completamente bêbada, esboçou um possível striptease para o primo que já dormia e ao deitar para abraçá-lo simplesmente apagara.

Só conseguiu pensar nessa possibilidade e então aceitou a como a correta. Veio correndo ate a cozinha e falou de pronto:

- Fabrício, espere que fique tudo bem entre a gente, mas eu comi sua prima, a Paula.

- O que? disse Fabrício, perplexo. C-C-C-Como assim? gaguejou.

- Ontem na festinha, ela apareceu aqui procurando você para entregar uns discos,. Como você já estava dormindo, perguntei a ela se não queria ficar e tomar um whisky com a galera do meu trabalho. Ela aceitou e ficou a noite todo. No meio daquele bafafá de risadas, nos encontramos e o final você já sabe!, disse com a maior das caras lavadas.

É claro que Fabrício aceitou a pilha que colocaram e ainda fingiu estar perplexo. Disse que ia pensar a respeito. Que não gostou do fato de ter a prima envolvida em historias de festinhas. O que a mãe dele ia atazanar sua vida ao descobrir, disse em voz alto para o amigo perceber.

Panos já mornos, os dois sentaram na copa ainda exaltados pela incrível historia sem pé nem cabeça que encontraram. Batendo tim tim com copos de leite, brindaram o triunfo. Foi aí que ouviram um grito vindo do quarto de Fabrício. Ao virarem quase juntos deram de cara com a seguinte cena. Paula, descabelada, ereta morrendo de sono, na porta do quarto de Fabrício e Claudia, estupefata com a visão da prima do namorado. Mas ainda estava quando olhou para o ventilador e viu pendurado o sutiã de Paula. Os fatos que vieram depois dessa cena é melhor deixar para lá, para não arruinar ainda mais o que eles omitiram.

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terça-feira, agosto 14, 2007

Duplo ciúme

Não é de hoje que o numero dois é maior que um. Vem desde sempre. Porem às vezes, um é melhor do que o dois e vice versa. No caso de Fabrício, o dois teve um significado ruim no dia de hoje. Ele sofreu uma dupla decepção. Vocês podem achar, de fato, que essa é um historia triste, porque decepção costuma significar coisa ruim.

A euforia conquistada ao longo do tempo fez com que aumentasse a auto-estima de uma forma que estufasse o peito como um pombo-rei a procura de acasalamento. Mas dentro das conjunturas humanas, não necessariamente, o peito estufado significa acasalamento, pode ser excesso de confiança prestes a desabar. E foi isso mesmo que ocorreu no curto espaço de tempo que Fabrício avistou seus dois futuros amores. Porém esses dois amores estão cada vez mais distantes, trazendo para o presente à certeza de um futuro para lá de demorado.

(Peraí! Isso esta parecendo sessão psicanálise de revista de domingo. Voltarei a história.)

Na manhã, acordou sem ajuda do temível despertador, e ficou se espreguiçando alguns minutos antes de abrir a janela e verificar o sol a pino. Não teve duvida. Meteu um short, deu oi a todos que moravam em sua casa, calçou o tênis e foi se exercitar.

Durante a corrida, percebeu uma euforia incomum dentro de si. Era como estivesse plenamente satisfeito com aquilo que fazia. Seu salário era razoável, seu carro também. Não lhe faltava nada, mas pensava que lhe faltava tudo. Mesmo extremamente satisfeito com as pisadas certeiras em direção ao objetivo, sentiu a falta inesperada que já sabia o que era. Continuou mesmo assim, transpirando cada vez mais, contemplando a paisagem e solidificando a imagem da geladissima água de coco no quiosque final. Após hora e meia de exercício, ainda eufórico, decidira ir a praia para mergulhar. Foi aí que tudo começou.

Já no caminho encontrou a primeira. A primeira de suas paixões. Por estar suado, não se atreveu a travar muita conversa pelo fato do cheiro a exalar pudesse ser prejudicial no futuro. Uma rápida conversa a um metro de distancia, e pronto. Não queria se estender. Afinal sua primeira paixão tem alguém. Mal sabe ela que o futuro ainda me aguarda. Saiu com aquilo na cabeça e não se estressou com o fato de ter desperdiçado, segundo ele, mais uma oportunidade. Ainda haveria outros. Mas aquilo o machucou um pouco, porque não era de ferro, muito menos de aço.

Chegando a beira mar viu o montão de gente amontoada no pequeno espaço de areia formado após a ressaca do dia anterior. Esquivando-se de barracas e cangas multicoloridas, Fabrício foi chegando ao mar pronto para mergulhar. Checou a temperatura, molhou os dois pulsos e a nuca, já que dizem que diminui o “choque térmico”, e mergulhou. Por lá ficou apenas alguns minutos contemplando a imensidão do oceano. Furou algumas ondas e as utilizou para voltar a areia. Saiu e ficou observando o movimento constante dos jovens ao seu redor.

Foi nesse instante que viu seu grupo de amigos conversando animadamente debaixo da barraca laranja. Não conseguiu ver todos então pegou suas coisas que deixara junto ao barraqueiro e seguiu em direção a eles. Ao chegar fez a festa, brincou com cada um, e foi simpático. Porem algo o deixou incomodado. Sua segunda paixão estava acompanhada. Deduziu quando esta passou a mão carinhosamente pela perna de outro e se confirmou no beijo carinhoso que ela dera no braço de seu novo namorado. Diferentemente das outras vezes que brincou, desta foi educado e não demonstrou simpatia nem afeição por ela. Resignou-se a conversar com os outros por alguns minutos. Porem aquilo já era demais para um curto espaço de tempo. Para não ficar mais chateado, achou melhor dar-se por encerrado o expediente na praia. Inventou que tinha obrigações a fazer, secou-se ao vento e saiu com o tênis de corrida debaixo do braço e foi caminhando até em casa.

Resolveu tentar pensar em outras coisas que pudessem trazer conforto a seu coração. Realmente conseguiu. Naqueles próximos quarenta minutos, pisando descalço sobre ruas e avenidas, Fabrício pode contemplar as razões que delineavam seu futuro. Incluindo aí suas duas paixões momentâneas. Pode ser que daqui dois meses Fabrício possa estar com uma, ou três paixões. Não mais duas. Sofrera um duplo ciúme numa tarde. E sentiu-se só. Mas de uma coisa tinha certeza e não abria mão, que no futuro alguma paixão seria verdadeiramente dele.

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segunda-feira, agosto 06, 2007

Fruto proibido

Guardo o fruto proibido na veia

Pois o receio me condena

Do medo imposto pela vida

Pequena


Sujo os lençóis para que veja

A insatisfação nos meus olhos

Debilitados de sua atenção

Pequena


Sinto o acalento vazio de sua mão

Esvaziar-se pelo meu peito

Numa direção sem jeito, alheia

Perde-se no tempo

Grande


Perco seu cheiro inconfundível

De aroma perfeito de lírios

Gigantes

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quarta-feira, agosto 01, 2007

Competição

Jantavam calados. Somente o barulho das cigarras nas arvores em frente da casa. O sol já tinha ido embora e a lua crescia sobre o lago. No píer, a vara de pescar repousava ereta a espera de uma fisgada. A brisa noturna começava a ventar da esquerda para direita, levando a milhares de folhas a cair de seus galhos. A cor típica de outono mostrava sua cara. Mais um ano se passava do episodio fatídico. Já completara três anos de espera por um sussurro, por um poema, por um dialogo e nada. A casa ficara vazia depois daquela noite. Os moveis continuavam lá, o carro do ano também, as raquetes de tênis, os sapatos de boliche, ou seja, tudo, igual à sempre. Somente o silencio imperava naquela casa na beira do lago.

Aquele episódio mudou por completo a vida do velho casal. Seus filhos já tinham saído de casa e moravam cada um numa parte distante do país. Vieram visitar os pais nas primeiras vezes, mas indignados por tudo que acontecera, deixaram de ir, como se estivessem em luto. Marcara demais a vida de todos. Dos seus amigos também. Nunca mais saíram juntos e começaram a freqüentar cursos de culinária pela Internet e realmente faziam pratos maravilhosos em casa. Sempre em silencio, aquela sensação de vazio, angustiada e de eterna pressão. Podia se ouvir de fora, o cortar dos vegetais, a batida do liquidificador para vitaminas e a panela de pressão preparando o feijão semanal. O sexo era cada vez mais raro, apesar da sintonia que tinham na juventude de suas vidas adultas. Ninguém entendia o que ocorrera e já achavam que a historia tinha ido longe demais.

Uma pena, pois o pior defeito dos dois era a competitividade. Em tudo. Desde a época de faculdade. Começaram se conhecendo numa partida de sueca no intervalo da aula de comunicação.A partir daí, não pararam mais. Competiam em tudo e para tudo. As férias com os amigos resumiam a disputa deles dois. Quanto mais competiam, mais se amavam. Era como uma droga pesada. Foram quase trinta anos nessa disputa. Hoje em dia, jogavam tênis, pescavam e jogavam boliche. Mas naquele dia chegaram longe demais. Nem eles agüentavam mais. Podia se ver que estavam sofrendo muito, olhos cabisbaixos, bochechas arreadas e línguas brancas. Tinham que dar um basta na situação. Mas ninguém daria o braço a torcer. Eram orgulhosos demais.

Orgulho besta, que naquele fatídico dia depois de competirem em tudo, estavam sentados um de frente para o outro, aborrecidos com o fato que não sabiam como agir dali pra frente sem competições. Já tinham tentado de tudo. Foi quando o marido levantou, como quem não quer nada, enquanto sua mulher contava como fora o dia. Foi até a geladeira, pegou o sorvete e, em pé mesmo, sem olhar para ela gritou: VACA AMARELA!