segunda-feira, março 12, 2007

Salvador

- E ai Salvador?

- (Risos).

- Você não me engana.

- Eu sei que não.

- Há quanto tempo?

- Não sei. Desde aquele dia no baixo.

- Que eu fiz a mesma brincadeira.

- Pois é.... Muda o disco.

- Olha lá, que intimidade é essa?

- (envergonhada) Desculpe, não foi minha intenção.

- Previsível...

- O que?

- Sua reação...

- Ahhhhh

- Desculpe a pilha. Me empolguei.

- Ah é?

- É, em te encontrar de novo.

- Assim ruborizo....

- E como vai a cidade?

- Você que me diz. Você vive lá.

- Que isso? Aquela foi a ultima vez que estive. Você que dá risada toda a vez que tocamos nesse assunto.

- É mesmo. Olho pra você e sei que vem alguma gracinha. Tipo Salvador.

- Mas é sua cara. E não adianta dizer que foi descansar, tomando caipirinha de siriguela na praia, por que sei que foi caipirinha de siriguela. Mas na Avenida.

- Ok, (risos) você venceu.

- Ainda não, no dia que completar os cinco dias de circuito pode me chamar de vencedor. Mas voltando ao assunto pertinente, não imagina porque queria te encontrar.

- Então diga, sou toda ouvidos.

- Gravei uma fita cassete...

- Fita cassete?

- Isso mesmo, com os maiores hits de axé music desde a época de Luis Caldas. Fiz questão de limar Carrapicho porque vem lá da Amazônia. E Amazônia não é axé, Salvador!

- Nossa, que noticia bombástica. Mudou minha pacata vida. Pretende fazer o que com essa fita viciante?

- Taí, ainda não pensei no que fazer, primeiramente queria te contar essa minha aventura. Cheguei a perder algumas horas, para não dizer dias atrás de cópias dessas músicas.

- Mas o que tem de bom nessa fita?

- Os clássicos, Ivete, Chiclete, Asa. Os super clássicos Armandinho, Daniela e Margareth. Porque sabe como é, quando você é intimo só chama pelo primeiro nome. Grupos com nomes lindos, como Patchanga, Harmonia do Samba e a voz potente de Carlinha. A Perez.

- Estou impressionada.

- E é claro, Brown. O único invertido de todos.

- Luis Caldas e “nega do cabelo duro”?

- Claro.

- Tem Beto Barbosa?

- Ahahahahaha. Você acha que eu ia esquecer um clássico da década de 90. Logo depois de Netinho e aquele grupo que canta papo de jacaré.

- Agora estupefata. Papo de jacaré é surreal.

- Te falei Salvador. Pensei em você quando fiz essa fita. Só não tive o tempo de treinar as coreografias....

- Aí então o que você quer de mim? Que eu te ensine?

- Que pretensão!!! Você se considera tão boa assim para me ensinar?

- Acho que sim. Você esta me desmerecendo.

- Peraí, não posso gravar uma fita pra você e te desmerecer. Considere isso uma honra. Pega o walkman.

- Que walkman? Só tenho ipod.

- Chique!

- Que nada! Antenada!

- Chique!

- Ta bom, sou chique!

- Vamos parar com essa discussão. Toma a fita e escuta em casa.

- Agora não vai dar. Acabou o Carnaval, to na rebordosa.

- Rebordosa?

- É. Sabe quando você tem uma overdose de algo? Foi isso. Preciso descansar a mente.

- Salvador, não faz isso comigo. Gravei com todo o carinho... e eu pretendia, lá no fundo da minha cabeça, que você me ajudasse.

- Ajudasse?

-É. Dessa forma poderíamos nos encontra mais uma vez, não dessa maneira esporádica e imprecisa.

- Entendi. Você quer me conhecer melhor.

- Provavelmente. Se falasse logo na lata seria descartado. Sabe como é a impulsividade.

- Quem disse?

- Eu.

- Combinado, agora espero que tenha uma cópia também.

- Para que?

- Para você escutar e não se esquecer de Salvador.

- Vai ser impossível. To com o swing na cabeça.