segunda-feira, abril 21, 2008

Carta para alguém



Rio de Janeiro, 21 de Abril de 2008 

Olá, nesses tempos modernos , onde a informação chega a qualquer lugar numa velocidade incrivel, eu escrevo-te essa carta. O por quê? Voce sabe bem que escrever é muito mais facil para mim do que falar. E eu quando falo isso, lembro de você brincando comigo, fazendo graça da timidez que me foi imposta. Sempre me perguntando por quem , por quem???? E eu ficava envergonhado, e abaixava os olhos complacentes. Quando levantava de novo, você estava sorrindo para mim, com o rosto bem perto do meu. Era aí que ficava sem folêgo, estremecia antes mesmo de te beijar. O seu cheiro nunca me enjoava. Quisera eu passar este cheiro para mim, de uma forma nada narcisica, combinando a minha realidade a tua. Aí rodavamos na sala, afastávamos os moveis e ficavamos dançando aquela mesma musica, duas, tres, dez vezes. Parecia que nunca iamos cansar e a cada uma nos conheciamos melhor, nos aproveitavamos melhor. Até aquele dia….

Sinto por não ter te dito tudo o que queria. Agora que meu cabelos começam a cair e as mazelas humanas recaem sobre mim, tenho a coragem de escrever. E tudo aquilo que escrevo hoje é para lembrar do nosso amor. Eu sentado naquele bar, olhando para o copo de whisky na mão, pensando em como refazer aquilo que tinha quebrado, ouvindo as musicas que saíam das caixas de som, olhava em volta, ignorando os outros. Ninguem prestava atenção em mim. Mas não é isso que quero passar.

Ao rodopiar pela sala hoje em dia, vislumbro lembrar a complacência que sentiamos um pelo outro. Sempre a acordar, passando manteiga no pão, prestava a atenção em você, sentada no banco alto a olhar pela janela os girassois que enfeitavam o jardim que fiz ao te conhecer. Aquela discussão sobre flores e plantas, me fez entender que a sua vontade iria preencher meus medos e fariam com que ficasse mais leve viver. E do lado das flores, o cactus. Indestrutivel, imperfeito com seus espinhos e sem a falta que a agua o faz. Meio que parecido comigo, que ficava sentado na poltrona do escritorio, dando baforadas na cigarrilha de palha que enrolava. Sempre tinha vontade fazer. Quantas vezes fiz dois, para que me acompanhasse. Preciso ser sincero e confessar que voce ainda faz falta. Após esses anos perambulando por ai, penso em você.

Por isso essa carta. Fico me imaginando parado em sua janela em algum lugar do mundo a te esperar, como um sentinela esguio guardando posto. Ai te veria e a sensação de fraqueza viria e tudo aquilo que queria um dia falar, não sairia. Quantas vezes estava com o tiquete na mão para pegar o primeiro trem e na plataforma, desistia. Passava tardes no café em frente ao pier, degustando aquele cappuccino e vendo os casais mais jovens descobrindo aquilo que tive. Uma sensação de bem estar, por que amor não consigo mais achar. 

Sei tambem que você foi pra frente. Deve ter alguem que ame ou goste. Filhos, filhas, por certo uma familia, enquanto eu não me encontrar como gente , acredito que não aparecerá. Espero estar sendo sincero contigo, pois não sei sua reação. Um aperto no coração, uma saudade repentina no peito, um riso de alegria de saber de alguem tão distante, mas que está tão perto de você. Não imaginas quanto. Às vezes quando chove forte, vou a janela e respiro fundo. Fecho os olhos e imagino que estou eu ainda a cheirar seu pescoço de surpresa. E assim ver as bolinhas de arrepio que surgiam em seus braços e atraves do espelho ver seu rosto ruborizado. 

Sabes que ao dizer isso não acredito em sua volta. Ainda sei que um dia poderemos nos encontrar de relance, mas não sei será minha novamente. Certo que olharei bem fundo nos seus olhos e aspirarei novamente o perfume que você certamente exala. Não perdera isso por certo. 

Essa não é uma carta de adeus, nem de reconhecimento. Não declarei todo o amor que sentia naquela vez e você escapou de minhas mãos. Eu não acreditando nas suas palavras e sendo bastante seguro de mim. Grande segurança que hoje não passa de desconfiança. Não me sinto forte pelo que sou, mas sim fraco por não ter te ouvido. Agora é tarde. O quanto que chorei pode ser mensurado, mas deixo para você imaginar.

O certo é que te levo no peito. Como uma tautagem imaginária, me ponho a lembrar de tudo aquilo que aprendi com você, e que tinha desaprendido com a vida antes. Hoje estou mais velho e maduro, sei de meus poderes e de limitações. E você? O que realmente contaria para mim.

Não sei… mas tente colocar uma musica calma na vitrola, quem sabe uma valsa e no compasso da musica me escreva uma resposta. Pois eu sei que amor podes sentir por um, mas carinho podes sentir de muito.

Sem mais e um grande beijo,
Meu.

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