sexta-feira, janeiro 19, 2007

Soneto para Recuperação

A dor insistia em machucar o peito
de uma tal maneira, que não tinha jeito.
Por isso quando finalmente a mente se abriu,
o delírio insano, hostil e perverso da cabeça ruiu.

Então aproveite as manhãs quentes, e corra
sem parar, com o vento abafado na cara
alimentando o seu corpo, minha nobre Lara,
dos infortuitos pensamentos de que eu morra.

Isso simplesmente é um pedido de recuperação,
para todos aqueles seres vivos que habitam
nossos arredores, como uma paixão.

Agora que me curo de uma lastima má,
pego o que de pior te feriu
e enterro as últimas magoas com uma pá.

sábado, janeiro 13, 2007

15 anos

Enquanto desenhava no caderno de folhas brancas despautado, o menino de 15 anos ia, assim, construindo suas defesas para o mundo exterior. Com certa nobreza e desprendimento, transparecia para o papel a fragilidade dos traços recém feitos pela caneta esferográfica.

Ousava escrever usando tinta, para que o erro se tornasse um aprendizado. A penitência especifica para as curvas mal resolvidas de sua puberdade. De certo, turbilhões de diferentes especificações mostravam uma certa timidez, para o fato de passar horas sentado sobre o banquinho herdado do avô, transpondo obras de artes e paisagens que tanto afetavam sua curiosidade e cotidiano.

Não é mentira falar dos minutos que se perdia na imensidão de sua companheira fictícia que ele tanto desejava. A morena de olhos escuros esquecera de seu rosto, como uma pintura borrada numa noite de chuva. E ele não ousou esquecer. Ainda não dispunha de ferramentas para fechar a sua curiosidade ferida pela rejeição prematura. Para isso reclusão.

Como uma grande sinfonia, seus ouvidos rechaçavam qualquer hipótese de estrangulamentos dos desejos fazendo do mesmo menino de 15 anos, um estranho em seu habitat natural, a adolescência. Desenhava sem pagar, sobrepondo retas, curvas, olhos, claros ou escuros, lagrimas, intensas ou única. Sua convicção através das imagens relatava suas questões. Lápis mordidos, canetas quebradas, roupas pintadas e seu inseparável boné boina. Isso ele deixava pelo seu corpo pendurado como um amuleto. Na mochila preta surrada, seus trabalhos, seus rascunhos, sua máquina fotográfica manual e um livro de anotações.

Foi dessas anotações que presumi sua idade, quando fui conhecer sua obra no museu metropolitano de Nova York. Na introdução dizia que seus rascunhos datavam um quarto de século de idade, isto é, 25 anos. Mas não sei não, ou eles estão errados ou a maturidade varia de pessoa para pessoas. Cabe a você descobrir realmente a sua.