domingo, junho 29, 2008

Pobre menino encalhado


Naqueles encontros gigantes, onde centenas de jovens marcavam presença, ele era sempre mais um. Perdido em fantasias hipotéticas, em historias desconcertantes e imaginárias, perambulava entre grupos de amigos olhando todas. Mas ninguem o olhava. Passava despercebido por morenas, loiras, cabelos curtos ou encaracolados. Sempre como um vulto branco entre as pessoas.

Sua voz permanecia calada e suas roupas, distintas e sem cor, tornavam sua espera sempre mais angustiante. Por isso podia estar encostado numa arvore, num carro na esquina ou numa mesa sozinho. Não era importunado por ninguém que transitava por lá.

Verificava nos rostos das pessoas uma felicidade efêmera, que não conseguia sentir. Estava desbotado de tanto sofrer. Um sofrimento que não conseguia entender, muito menos apaziguar. Valente por lutar, mas covarde em neutralizar seus sentimentos. Por onde andava sentia-se só. Imaginava estar em outra esfera ou dimensão.

Observava solitário, o vai e vem dos casais, felizes em seu momento, na existência simples da complacência do presente. Queria ele sentir por elas o que não conseguia sentir por si próprio. Com isso, continuava a caminhar a passos lentos pela area aberta, cercada de árvores silvestres, enquanto o mundo girava a sua volta e diversas coisas aconteciam.

Como uma boia solta em mar aberto, ia apaixonando-se por cada sorriso ou olhar que batia de frente com seus olhos. Seu coração pulsava por querer, mas poder sempre o limitava. Sua garganta pedia mais e sua saliva distorcia a necessidade do encontro, alheio e puro. De certo, sua presença fisica era uma mais a encher o local de diferentes estilos. Resignante com sua possibilidade, encolheu os ombros, abaixou a cabeça e com as mãos no bolso do casaco ,seguiu caminho e se perdeu mais uma vez na escuridão daquela noite de inverno.

Por certo, não percebeu que nesses olhares e sorrisos, pulsavam tambem sentimentos, corações e afetos. Em cada cruzar de olhar, uma chamada. Em cada encontro de feições, uma possibilidade. Mal sabia ele que correspondido era. E com um pouco mais de calma, tudo se tornaria mais fácil. A negatividade do outro era sempre externa como um bloqueio da tristeza futura. Mas se o presente é que é importante, não pôde escutar o que tantos sorrisos e olhares pensavam quando o viam passar percebidos aos seus encontros:

- Pobre menino encalhado!

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quinta-feira, junho 26, 2008

Será?

O olhar perdido na multidão
cultiva nossa relação conturbada

A lagrima escorrida do rosto
libera a vergonha latente de seu coração.

O clamor surdo de sua boca
Mantem o afeto solto no ar.
Da mesma forma que minha,
loucura aparente transparece
o amor que ainda lhe darei.

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