quarta-feira, julho 25, 2007

Oi x Olá

Não é a toa que você se pega perdido no tempo olhando as pessoas ao redor buscando algo. Lembranças, momentos, dizeres, simplesmente social. Engraçado é achar que a cada momento vivido é uma descoberta sua do que a vida pode te trazer. Escrevo isso, pois um simples encontro casual pode se transformar numa conversa boa que faça com que esqueça dos perrengues que está passando, inclusive te anima para seguir em frente e continuar a conversar. Sempre começamos por motivos, grande parte sem efeito nenhum, às vezes banais demais. Diferentemente dos outros, gosto muito do olá. Não é igual ao Oi, não sei como explicar. Tente passar alguns segundos falando oi. Soa como impessoal ou fofinho demais como um oiiiiiiii ou oiêêêêêêê. Pode parecer loucura, mas o efeito de olá é praticamente superior, como uma surpresa:

- OLÁ, como se chama?
- Nossa que susto que você me deu?
- Por que? Só estava sendo simpático?
- Como assim?
- Não te conheço. Poderia vir aqui é começar a dissertar como a noitada está boa, como a festa tá cheia, como o pessoal bebe ou simplesmente lhe dizer se por acaso se machucou, pois acaba de cair do céu. Mas nada como ser simples e começar com um olá.
- (Risos) Espirituoso você hein?

E por aí vai.
Fico pensando que todos os dias milhares de cantadas são feitas e não posso mensurar, pois estaria cagando regra, mas acredito que coisas ruins estão acabando com o romantismo de uma simples cantada.
Tudo bem que muita gente somente pela atração física é capaz de ignorar o que o outro fala para chegar ao que quer: o beijo. Aí depois cabe a química decidir se haverá evolução ou repulsão.
O ser humano deveria ser exigente o suficiente para procurar satisfaze-lo a partir do momento após o olá. Quantas vezes a observação que o outro está de saco cheio de suas falas fica latente? Chega a ser inconveniente quanto você se esforça para conhecer alguém e nada.
De volta ao romantismo.... Ao citar essa palavra, não demonstro que o amor deverá ser o epicentro das conquistas, mas a inteligência, o saber de colocar as palavras no momento certo, o imediatismo brindariam uma possível atração entre os dois.
Pense. Ao olhar alguém que te atrai, imagine o que ela (ou ele) gostaria que você falasse, alguma coisa que quebrasse o clima, que te desse mais tesão de chegar e consumasse o fato. Vamos mudar o jogo, deixá-lo mais inteligente, mais divertido e dinâmico. Com certeza o trunfo será maior e o troféu da conquista melhor.


Ps: Achei esse texto numa pasta antiga. Deve ter uns 3 anos de idade. Mas tem coisas interessantes...

quinta-feira, julho 19, 2007

Niilista versus Existencialista

Niilista: Não é nada! Pára com isso!!!

Existencialista: Como parar? Você não vê que estou tendo dificuldades?

Niilista: Que dificuldades, meu querido?

Existencialista: Odeio que me chamem de meu querido?

Niilista: É uma maneira afetuosa...(é interrompido)

Existencialista: Desde quando você demonstra afeto? É o gelo em pessoa.

Niilista: Epa! Agressão à toa, do nada?

Existencialista: Se vestiu a carapuça....

Niilista:Vesti nada, foi indelicado de sua parte.

Existencialista: Mas você não dá a mínima para as coisas...

Niilista: É claro! As coisas não significam nada.

Existencialista: Já está generalizando. Tem muitas coisas que valem a pena.

Niilista: (Risos altos) Exemplifique algumas!

Existencialista: Dar um exemplo?

Niilista: Isso mesmo. Desembucha!

Existencialista: Peraí, deixe eu pensar....

Niilista: Xiiii, já vai sair pela tangente, sem dar a resposta.

Existencialista: Hmmmm. Comer algo que goste.

Niilista: Você come porque precisa comer, senão morre.

Existencialista: É verdade. Mas esse é o sentido generalizado. Agora eu como porque tem algum sentido eu comer. Tem algo que me diz que tenho de me alimentar, porque existo.

Niilista: Daqui a pouco, você vai dissertar Descartes, com o famoso: “Penso, logo existo”!

Existencialista: Mas cá entre nós, a sua existência é a sua essência. Você surgiu para fazer alguma coisa, foi determinado por Deus.

Niilista: Por Deus, pela força superior, pela luz. E se não for nada?

Existencialista: Lá vem você de novo com esses sentimentos sem sentido, sem forma e sem dimensão.

Niilista: Por isso tenho sempre razão.

Existencialista: Você ACHA que tem sempre a razão, pois não dá resposta nenhuma, só fica enrolando, enrolando, enrolando.

Niilista: Ah é? (Fica puto) E você que fica se questionando por que tem que comer, porque tem que sentir, porque tem que sofrer. Se você visse pelo meu ponto de vista...

Existencialista: Seu ponto de vista não existe!

Niilista: Concordo plenamente!

Existencialista: Perai! (Confuso) Você não pode concordar comigo, somos diferentes.

Niilista: Diferentes nada! Opa, de novo. Eu e você somos iguais, vivemos na mesma época, tomamos nossos tragos, lemos bastante, escrevemos e divagamos.

Existencialista: Só falta você dizer que fazemos exercícios a beira mar.

Niilista: Aí não vai fazer sentido algum. (pensa um pouco). Aí eu gostei.

Existencialista: É claro, né? Não vai fazer sentido algum. Você gosta daquela anarquia geral, para não falar na putaria que vai ficar.

Niilista: Heheheh. Então você me conhece.

Existencialista: Se conheço (sarcasmo puro)

Niilista: Mas quem fica se lamentando diariamente sobre tudo e não curte nada?

Existencialista: EU curto! As coisas tem algum significado. EU só não consegui descobrir o que são. Meus trabalhos e meus pensamentos têm personalidade sobre a minha existência. Por que eu estou aqui? Por que algumas coisas são de um jeito mais lentas do que o outras?

Niilista: Blá, Blá, Blá! Daqui a pouco você vai se questionar porque o sorvete de limão é branco se seu fruto é verde?

Existencialista: E daí? Você não sabe o que eu estou passando?

Niilista: Já falei para você ir lá conversar com ela.

Existencialista: Ela não quer.... (faz beicinho)

Niilista: Claro! Tá magoada!

Existencialista: Ela quer me trocar por outro!!!!

Niilista: Daonde você tirou essa idéia maluca?

Existencialista: Com certeza. Vejo em seus olhos. Eles não mentem jamais. Se não questionar o porque de estarmos juntos e tentar achar o significado de nossa paixão, como vou saber se ela está pensando no outro?

Niilista: Pára com isso!!! Já falei que não é nada.

Existencialista: Olha você de novo com os seus sofismos....

Niilista: Ta bom, ta bom. Chega, tenho que partir. Não quero perder a aula de dança.

Existencialista: Ahhhh, sempre mal intencionado.

Niilista: Bem, meu caro, bem.

Existencialista: Já falei que não gosto desse seu nhémnhémnéhm.

Niilista: Mas simpatizou comigo na faculdade, e até hoje somos “brothers”.

Existencialista: (Concordando) Isso é verdade...

Niilista: Vai lá e conversa com a menina, ok?

Existencialista: Deixa comigo, Nietzche. A gente se vê na praia amanha se o sol aparecer. Obrigado pelo papo.

Niilista: Não é nada, Sartre. Vai curtir a vida.

sábado, julho 14, 2007

Tchutchucas e Nhá Benta

Não posso chamar isso de crônica, muito menos de relato. Me veio a idéia no chuveiro cantarolando uma musiquinha do Casseta Popular, anterior ao Casseta e Planeta. Puxei do fundo do baú. Espero que você conheça. Com sotaque paulistês, eles cantaloravam assim: - Eu sou adolescente da sociedade de consumo/ Bala Juquinha e supra sumo/ Eu gosto de comer Ana Maria e Nhá Benta da Kopenhagen/ Eu gosto de balinha maravilha e revistinha de sacanagem!!!! Aí repetiam o refrão.

Neste fim de semana que passou, posso dizer que participei da FLIP. Para os que não conhecem é a Festa Literária Internacional de Paraty. Despretensiosamente mandei dois textos tempos atrás quando chamava urubu de meu loiro e tinha dificuldade de saber se tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais. Caraca, depois de um mês eu fui selecionado. De 350 pessoas de todos os lugares que mandaram seus trabalhos, 30 foram selecionados. Um deles fui eu. Fiquei todo prosa. E nada para levantar um pouco o ego do que contar para os amigos que estão tão distantes. Já não sabem de você nem você tampouco. Mandei um link com meu nome embutido, num release de imprensa. Não é sempre que você aparece num release de imprensa.

Depois de um dia, abri meus emails e tinha resposta de meia dúzia deles.(Só mandei para meia dúzia mesmo). Todos me parabenizaram, e tomei esses parabéns como um abraço que todos impossibilitados de estarem aqui, me deram. Porem um amigo, sábio nas idéias, não parabenizou. Ao invés disso, mandou o seguinte comentário: “Que mané livros.... repara é nas tchutchucas.” Dei risada e segui em frente.

Como vocês todos sabem o que é uma tchutchuca, não vou me dar o trabalho de explicar. Porem na quinta feira passada as 05:30 da manhã, sentado num banco xexelento da rodoviária voltei a pensar nesse assunto. Cheio de remela no olho ainda, comecei a reparar em quem também esperava pelo ônibus para Paraty. De lá para a FLIP não parei. Pude ter o prazer de olhar todas, solteiras, namoradas e balzacas. Digo prazer porque estou fechado para balanço. Tirando a comida, foi só olhar. E digo a vocês que foi muito bom. Num evento de literatura, encontrei varias pessoas interessantes e admito que outras também me acharam interessante. Pude assistir grandes mesas de debates (para mim foram duas), como a do Amós Oz, que com sua linha pacifista e inglês pausado, pode conquistar a cidade. A fila de autografo estava gigantesca. Um senhor de idade já, cansado de dar autógrafos escrevia Amos e pronto. Como tietes quando celebridades vão para algum lugar no interior do Brasil, na FLIP foi assim. Ou senão o escritor bonachão Will Self, inglês em corpo de Kramer do Seinfeld. Sarcasmo puro, não poderia ser mais engraçado. Mas também não consigo descrever. Vale a pena procurar seus textos.

Podem ter certeza que não parei de reparar nas tchutchucas, ate o dia de ir embora. Ia e vinha desde o cafofo onde fiquei até a tenda principal reparando nelas. Que nada de filosofar ou saber quem é o melhor escritor. Ia tropeçando nas ruas desniveladas de Paraty, mas não tirava o olho. Confesso que uma me chamou mais atenção, cruzamos olhares ardorosos por poucos segundos, mas encheu meu peito de esperança. Pode ser que ela tenha sumido na multidão que zanzava sem parar pela cidade, mas valeu o momento.
E você se pergunta o que tem a Nhá Benta a ver com isso? Pois bem, a Nhá Benta não é nada mais do que um delicioso creme de marshmellow no interior, coberto por uma fina camada de chocolate e com um leve biscoito embaixo. Quem come se lambuza. Os mais recatados sujam o canto da boca, mas lambem com a língua para não perderem um momento sequer. Posso dizer que vi as tchutchucas dessa maneira, não pejorativamente, como nunca li. Sábias palavras que transmutaram comigo ao longo de quatro dias. Algo delicioso, inigualáveis em seus cheiros, em seus olhares, em seus corpos. Parabéns a elas que alimentam minha imaginação conturbada.

Voltei da oficina confuso em definir o que é crônica ou o que é conto. Mas concordei que o Dapieve conhece de musica. Leram algumas crônicas interessantes e outras nem tanto, que nem prestando a maior atenção elas fluíam para dentro do cerebelo. Também me pareceu ter gente muito esforçada e lírica em seus contos, poesias e crônicas. A mim, só d’s é quem sabe. Vou continuar a divagar. A você, que desfrute. E com licença que eu vou comer uma Nhá Benta.

terça-feira, julho 10, 2007

Lingua Portuguesa

Entendo como exagero, algo fora do comum a ser realizado por alguém ou algo por algum motivo. Mas se quiser, pode procurar num dicionário ou em uma das letras de Cazuza. Foi desse modo que o sujeito apareceu e logo pareceu equivocado.
No próprio ônibus, botou na cabeça que dessa vez sua voz seria ouvida e aplaudida em Paraty. Não pelo tilintar das marés ao bater nas rochas, mas a partir de sua poesia. Ou seria prosa? O sujeito tinha dificuldade de se afastar do predicado (quiçá do pronome obliquo). Mas tudo bem, tudo é festa e vamos celebrar.
A primeira impressão ao chegar foi que seria um sujeito oculto. Invisível ao olhar das grandes estrelas em evidência, resignou-se a andar a ermo pelas pedras das ruas do centro histórico, tropeçando suas prosas, ou poesias? – para os comensais enólogos. Público ideal para um clamor natural de palmas.
Que de certo, não aconteceram, pois as conversas alheias transmutavam entre si tornando diálogos inadequados em peças de teatro diabolicamente sem nexo. Nem o melhor dos detetives conseguiria decifrar tamanha estapafúrdia.
Sujeito indefinido esse que não baixou a guarda e continuava com a louca obsessão do clamor popular. Tentou diversas vezes, talvez cuspindo poemas da boca como os palhaços que vira cuspindo fogo ou quem sabe colocando uma melancia na cabeça.
Lá pelas tantas, devido a formidável seleção de cachaças que tinha tomado, graças às amostras grátis que pedira nas cachaçarias, viu-se num hiato perverso de sua vida. Não tendo mais razão para o que sentia, já que os outros não entendiam sua sublime inspiração nem o futuro do pretérito de suas poesias, ou seriam prosas? – agarrou-se ao grande véu que enfeitava a igreja principal e sentou-se plenamente resignado na areia da praia contemplando a conjunção do mar com as montanhas, sendo que a noite transformava tudo numa coisa só, o preto estrelar.
Mal sabia ele que virou a noticia maior do encontro literário, já que nenhum adjetivo foi capaz de ser interpelado quando ao meio dia da palestra principal, seu corpo apareceu boiando no rio que desemboca na baía de Paraty, com o véu ao seu redor. Sem advérbios para exprimir a perplexidade, a platéia somente suspirou. Eta sujeito enrolado!