quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Pensativo numa reunião.....

"Sobre as ondas , segue em curvas as pedras
portuguesas.

No vai e vem dos corpos, as silhuetas das sombras
encobrem meus temores.

Do alto da montanha reflito o que fazer

Do asfalto, penso no amanhã

Do mergulho no mar, esqueço a tristeza."

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Maças

Caindo, a maçã foi ganhando velocidade até se espatifar no chão. A árvore sorriu. Mais uma que cai de meus galhos, falou ela. Que peso que estava sobre seu tronco. Todo ano era mesma coisa, chegava essa época, e a macieira ficava entupida de frutos. Imagina um adolescente em ebulição com a cara cheio de espinhas. Era a arvore com maças.
As chuvas tinham sido abundantes naqueles meses, molhando sempre que possível suas raízes centenárias. Era uma curtição só naquele descampado. Uma arvore dentre milhares de flores daquele jardim. Sozinha não se sentia, pois os pássaros eram seus companheiros, as abelhas suas confidentes e as formigas seus xodós. Todos freqüentavam a macieira regularmente, quiçá diariamente e o final de estação era comemorado como ano novo, mais uma etapa se cumprindo.
Ao longo do ano, a árvore adotava 4 identidades diferentes, quatro estados de vida heterogêneos. Se no verão a afobação era total, no inverno só faltava o prozac. Careca, sem folhas, troncos ressecados e gosto ruim do solo. Esses eram os aspectos da macieira no inverno. Tudo muito frio, escuro, sem vida. Medo sempre tinha de ser esquentada numa lareira porem confiava em seu taco. Faz dois anos que tinha se recuperado de uma ventania seguida de granizo que devastou a região. Plantações, florestas, pomares e hortas receberam a extrema-unção da natureza. Menos a macieira. Após esse episódio, todo começo de primavera ela depositava suas esperanças em seus filhotes (maças) com o propósito de que no começo do verão sua cor rubra destoasse no horizonte, sendo vista por tudo e todos. Concordava que era uma macieira narcisista. Afinal não tinha competição.
Sem nenhum transtorno começava a perder suas lindas madeixas tres meses depois, se fazendo do ciclo de vida de suas folhas. Era triste ver uma a uma sendo levada pelo vento frio do outono. Sempre a noite, o que a agradava mais pelo simples fato de não ser visto por quase ninguém, tirando uma coruja que ficava discretamente olhando o desfazer gritando bem me quer/mal me quer. Era sacana e só ficava na região por um simples período de tempo migrando para outras regiões.
A macieira nunca tinha perguntado nada a coruja, mas sua vontade de conhecer outros lugares deixavam-na extremamente curiosa. Tinha ouvido historias incríveis e historias era o que mais tinham para lhe falar. Era um baú de historias. De todos os tipos. Era como já conhecesse diversos climas, regiões e vales por aí. As vezes conversava com as margaridas e lírios que habitavam seu redor sobre a vida após a morte delas. Afinal quando eram levadas dali para enfeitar outros lugares, eram como se transcendessem a um outro espaço. Tudo bem que muitas vezes o resultado não era o mais digno, porem ficar repousando ao lado da mulher amada de um certo alguém valia a pena o risco e tudo de que ruim existisse. Só o sorriso, a respiração, um suspiro acabava com o que havia de pior.
Como no caso das maças, somente uma parte iria para os outros, no próprio fruto aonde guardava toda a essência que tinha sucumbido adão e que destoa muita coisa ainda hoje. Conhecido como fruto proibido no passado, mas visto com o poder do amor hoje em dia, me gabo de ter o poder para gerar o amor dentro de cada pessoa. Afinal de contas, sou um cupido em forma vegetal, aquele que trará paixão para todos. Enquanto meus frutos saírem de mim, posso garantir que a felicidade de ser amado por alguém reinará.
Mais uma maçã cai rolando pelo chão.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Transito caótico num setembro perdido

Pelo final do tunel sinto que algo está diferente no elevado. Sol a pino e carros freiando. O que deveria ser uma simples batida entre dois carros e um poste, acabou se tornando uma tortura. Sem saída? Nem tanto. De um lado vejo o oceano azul com sol batendo em suas ilhas e asa deltas e parapentes cruzando a pedra da gávea, e do outro lado, mato como qualquer outro. Resolvi prestar atenção ao mato. Apesar de ter arvores, chão úmido típico da região e lotado de bichos, encarei-o de uma forma que nunca tinha visto. Afinal de contas quando parei no Elevado ? Nunca!

Meia hora para andar poucos metros!!! Realmente algo aconteceu! Bom momento para pensar em algo corriqueiro e que aporrinha sua cabeça, mas não, vc só pensa no mato. O que poderá sair daquelas arvores, bichos e chão úmido? Olho para os lados e todos com a mesma cara de desespero. Será que virá arrastão? O velho no Golf traga seu cigarro apreensivo pela fresta de sua janela blindada. O parafinado vascaíno da Kombi sai repetidas vezes de seu posto de motorista para admirar o cenário em volta, não acreditando que naquela tarde algo iria entretê-lo. A senhora ruiva da picape, nervosa indagava a sua mãe o que seria de tão ruim para o transito estar daquela maneira. E eu pensando no que moraria naquele espaço de mato. Pensei na tranqüilidade da bicharada invertebrada que assistia aquilo atônita, preocupada somente em seguir seu caminho e se proteger contra o predador do espaço. Levando para meu caso, estávamos todos a procura de um predador para aquela situação. Algo que pudesse suprir nossa falta de expectativa pelo momento que estávamos passando de pura falta de defesa.

Alivio, pensei depois. Era simplesmente fogo numa casa que atrapalhou meus planos para o final da tarde. Ficar sentado dentro de um carro tantas horas vendo a mesma paisagem e inalando fumaça é ruim, porem ajudou a passar o tempo que estaria de cara amarrada procurando algo para fazer, não pensando no tino comercial que deveria ter ou pelo fato de mostrar aos outros quão competente eu sou para receber meu ganha-pão. A minha válvula de escape foi o mato que me ajudou a esquecer o que deveria estar fazendo com minha roupa social amarrotada e pelo calor que fazia minha meia grudar cada vez mais em meus pés. O mato pode trazer a tranqüilidade no pequeno espaço de tempo que tive. Depois tudo voltou ao normal. Buzinas, fechadas, ônibus lotados, vans trapaceiras cortando pelo acostamento com pessoas desrespeitosas que tornam o dia dia mais complicado. Cada um querendo tirar proveito do tempo perdido como se fosse crucial recuperar o que simplesmente ocorreu.
Enquanto isso, olho pelo retrovisor e vejo o velho no seu Golf blindado tragar forte seu terceiro cigarro.O que o aflige?

domingo, fevereiro 12, 2006

Historinhas de um dia chuvoso

Querido diário,

Vou ser direta ao assunto. Nunca beijei. Muito menos fui beijada. Estou com esse pensamento na cabeça, desde que meus 15 anos passaram semana passada. A festa que eu sempre sonhei e que todos me ajudaram. Não me considero feia nem bonita ao extremo para me fechar e não conseguir aquilo que sempre planejei desde que me mudei para cidade grande. No interior sabia que poderia ser mais difícil pela comunidade fechada. Vislumbrava sempre que na cidade grande alguém que nunca tinha visto iria olhar fundo nos meus olhos, profundo mesmo, para me deixar desnorteada. Com as pernas bambas, só de pensar da maneira que chegaria em mim, se ele seria ou não minha paixão verdadeira. Sei que desde de menininha, de tanto ler historias românticas, meu mundo ficou circundado por essas fantasias que não deixavam minha cabeça assumir o que de fato seria um beijo como qualquer outro, conforme minhas melhores amigas me falam. “Beta, é só um beijo. Você acorda do mesmo jeito no dia seguinte!”. Brigava com elas porque o meu seria diferente. Não deixaria ser um ato impulsivo e somente carnal. Gostaria de saber com quem estou entregando meus lábios. Afinal de contas, é dele que expresso os poeminhas que recito. Desse jeito só vou me confundir.
O que eu quero te contar é que no dia da minha festa, o Guto da minha aula de musica, aquele que toca saxofone, e que chamei em consideração ao pessoal de classe, me deu um presente que realmente mudou meu olhar sobre ele. Acho engraçado como simples fatos podem mudar sua opinião. Coincidências? Nem tanto. Não acredito! Começava a perceber isso em meus pais e no meu irmão mais velho. Mas peraí, ele já passava dos vinte. Me imagino com vinte anos mas não quero te falar agora disso. Quero falar do Guto. Todos meus amigos trouxeram roupas de grife. Vovô me deu aquela bicicleta que tanto queria e meus pais me pagaram a festa. Mas o que me chamou a atenção foi o presente do Guto. Dentro de um envelope azul escrito a mão estava um cartão. Ao abrir o cartão, estava uma foto minha tocando violino. Tenho mil fotos minhas tocando violino, mas essa foi diferente. Em todas sei que estão me fotografando, mas aquela? Ele pegou de um ângulo sem eu perceber. O mais interessante e bonito foi que o sol estava se pondo naquela tarde de inverno. Então a claridade avermelhada que adentrava a sala refletiu no violino e iluminou minha cara de um modo angelical. Tive uma sensação de extrema felicidade quando vi aquilo. Aquela foto já fora tirada há pelo menos três meses. Estamos quase chegando ao verão. Ele guardou pra si um tempão!!!! Agradeci sem graça e fui guardar especialmente com meu avô que cuidava desde sempre de mim. Falei: “Vô, guarda no coração que depois eu busco contigo”.
Fui curtir a festa onde dancei horrores. Pedi para gravarem tudo. È claro que chamaria todas para verem e comentaram as roupas, danças, peguetes (foi mal, adoro essa palavra) e fofocas. Mas uma coisa não consegui parar de reparar, o Guto. Sem menos trocar meia dúzia de palavras, só de pensar no presente me deixava nervosa. Vi no dvd da festa que me pegava diversas horas olhando a ermo ou olhando para ele. Não era totalmente deslocado, só que como um passo de mágica podia pressentir suas ações e via nos seus olhos à vontade de me olhar. Sua timidez escancarava demais. Quase na hora do bolo, fui ate ele. Tinha acabado de pegar uma soda no bar e tasquei um beijo em sua bochecha. Céus!! Como eram tenras e macias. Uma espinha na cara marcava seu inicio de puberdade. Inicio? Tava na cara que ele cresceu antes. Ninguém me daria uma foto dessas, ainda que nessa época da vida tinha sempre a vergonha de ser um presente barato. Mas também não sou ligada nessas futilidades.
Já faz três dias que isso aconteceu e não paro de pensar no perfume que ele estava usando. Na segunda feira, fui agradecer mais uma vez pelo presente que me dera. È claro que ele ficou super sem graça e pude então perceber a timidez e a semi-covinha que surgia no canto direito da bochecha. Então, me chamou para ir caminhando com ele pra casa. Descobri que ele morava a poucos quarteirões de meu apartamento. Quando saímos o céu preto e estrelado estava lindo. Chegamos a caminhar pelo calçadão. Pude sentir uma leve brisa vinda do mar que abriu meu coração e comecei a lhe contar coisas que só pra você que conto. Não fique enciumado. Estou em êxtase.
Nosso papo fluía tão bem que só acabou quando mamãe me ligou no celular preocupada. Sabe como é cidade grande. Só o verei amanhã, mas noite passado sonhei com ele. Pois é, fazia tempo que não me lembrava de sonhos. Sonhei que tocava seus lábios com as pontas dos meu dedos. Mas não com todos os dedos de maneira atrapalhada e vulgar. Tocava com os dedos que levam o som ao meu violino. Com os dois dedos mais importantes de minha musica. Lembro-me nitidamente. Pude sentir o contorno de sua boca e a respiração ofegante e nervosa por aquela situação. Achei que era verdadeiro o que acontecia. Não quis mais dormir. Me sinto extremamente lúcida e decidida. Um turbilhão de emoções tomou conta de mim. Sorrio para tudo a partir de agora. Desde então estou na janela a esperar. Tomei uma decisão. Vou beija-lo. Beta e Guto, cem vezes eu escreverei. Até o beijo alterar definitivamente o rumo da minha historia.

Primeira escrita

Hoje começo minha fase de blog. Há seculos pensava em postar um. Nele vou escrever meus textos pra quem quiser ler. Agora vai! Divirtam-se!