terça-feira, agosto 19, 2008

Mrs. Potter

Foi na laje daquela casa no bairro de Santa Teresa, ao ouvir pessoas hipnotizadas por algo resmungarem o que ele não entendera, que Maciel descobriu o real valor das paisagens inerentes a sua vida bastante atribulada. Encostado no muro de tijolos e de cimento batido, se apoiou para fente e lá contemplou por exatos dez minutos o nascer de uma lua cheia vinda por de trás dos morros da vizinha Niteroi. Foi durante esses minutos que descansou, onde esqueceu do porque se encontrava naquele local, que Maciel sentiu um aperto no peito como há semanas não sentia.

De certo, algo não estava correto com seus sentimentos, pois no momento de beleza extrema, a lembrança do sorriso de Mrs. Potter foi momentânea. Como num espaço de tão curto tempo, todas as frustrações voltaram numa força tremenda que a boca secou, os olhos dilataram-se e a boca secou? Mrs Potter conseguiu fazer um turbilhão de sentimentos serem transformados num só. Ofegante sobre o muro, Maciel questionou o real sentido do querer. O real sentido de viver e o real sentir de respirar. Sua respiração ficou profunda. Sua vida pedia uma resposta concreta. A vontade de saber de Mrs. Potter o encheu de coragem e de perspectivas reais de acontecimentos futuros. Dentro desses dez minutos de frente a lua avermelhada, imaginou cenas de seu reencontro. Cenas e fantasias sequenciais que transformariam um simples encontro numa capacidade indescritivel de equilibrio entre duas pessoas. 

E naquele momento resolveu ligar. Não sabia o que iria encontrar, muito menos como começaria a conversa. Há um mês não escutava sua voz e de certo, não saberia sua reação. Atendeu, conversaram sobre amenidades. Como a lua está bela, se a vida está boa, como se trabalha muito e se cada um está feliz com sua alma gemea. Minutos preciosos foram usados para esconder o que estava na cara. Maciel nunca soube esquece-la, mesmo sabendo que nunca tentara nada para cativá-la. Dentro de sua realidade era impraticável cobiçar algo que não lhe pertencia E isso estava o angustiando que sentiu náuseas ao desligar o telefone.

Na hora que tinha mais o que falar, falou sequencias difusas, desconexas de assunto e impossibilitadas de respostas a não ser por um leve sorriso sem graça do outro lado da linha. Não conseguiu entender a estupidez que fizera, sem antes pensar o que dizer. Se lamentava como uma paisagem tão simples e bela, poderia iniciar uma grande tormenta em sua vida. Seu passado foi discretamente remexido. Suas inflexibilidades foram expostas. Custou a normalizar a sua respiração. E quando a lua subiu e o tom avermelhado do seu nascimento naquela noite, se dissipou e se tornou de um amarelo forte, Maciel voltou a se perguntar , porque Mrs. Potter não conversará com ele, jamais.



PS: Tente ler, escutando Mrs. Potter lullaby - Counting Crows.

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segunda-feira, agosto 04, 2008

Paraty III

De uma diferença futebolística, nasceu uma discussão. Ferrenha.
Dessa discussão, surgiu um papo. Agradável.
De um papo, nasceu uma conversa. Animada.
Dessa conversa, trouxeram uma cerveja. Gelada.
Desta cerveja, apareceu uma festa. Badalada.
De uma festa, vieram cachaças. Puras.
Da cachaça, surgiu a alegria. Espontanea.
De uma alegria, apareceram sorrisos. Com dente.
Daqueles sorrisos, beberam mais cachaça. Com limão.
Desta cachaça, quiseram ir para outro bar. De cachaças.
Deste bar, beberam até fechar a porta. De madeira.
Da porta, nasceu uma nova idéia. Beber.
De uma bebida, ficaram com sono. Profundo.
Deste sono, não deram adeus ao rapaz. Bebâdo.
Nesse rapaz, surgiu no outro dia uma ressaca. Horrível.
De uma ressaca, veio a consciencia. Difusa.
Desta consciência, surgiu uma afirmação. Correta.
Da afirmação, passou a frequentar as reuniões. Do AA.
E de uma reunião, achou melhor parar. De escrever.

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