quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Feliz ano novo

O desejo de feliz ano novo foi rápido e burocrático. Ninguém poderia dizer que a historia daqueles dois terminara no rápido beijo de boa noite. Dela poderia esperar qualquer coisa, livre, irônica, despojada, cheia de si, mas com um enorme peso na consciência em não realizar tudo aquilo que lhe importava. Já ele carismático, de bem com a vida e esportista, só poderia se esperar um sussurro tenso debaixo dos lençóis e um desabafo alto para a paisagem que o constrói. Mas não foi isso que aconteceu.

Ambos ficaram pensando nas semanas que se passaram. A intensidade do relacionamento e a vontade de se querer estavam latentes desde aquele passar de lábios rente um ao outro no primeiro encontro. Ninguém sabia da existência do outro, muito menos seus passados. Por isso a certeza que ele possuía foi se definhando dia após dia. Ao lado do telefone esperava uma resposta para aquilo que já sabia. Que dois corpos não se gostam tão intensamente iguais. Enquanto ele deixava o tempo passar, ela já ia esquecendo de sua forma, de seu corpo e de seu trejeitos. Malditos trejeitos que ficaram a deriva quando o barco adernou. Saberia ela que aquilo naufragaria? Seria ela sua própria sabotagem? Seria ele mais uma vitima do amor não condicional de alguém?

A cada sinal de transito que atravessava, retirava uma pétala de flor. Seu caminhar ficara lento e repetitivo. A cada sorriso correspondido, uma sensação de vazio. A cada palavra pronunciada, uma lágrima brotava. Não tinha vergonha de esconder. Apos efêmeros anos, sentia-se vivo novamente. Seu coração pulsará, como não fazia há tempos. Sua voz embargada ao telefone denunciava a sensação pura de paixão. E ela percebeu. E no que percebeu, sabotou.

Autoritarismo, falta de expressões e acima de tudo, normalidade. A indiferença sobre situações diversas, a falta do riso pleno e a simpatia por ser livre, logo de cara, minaram o relacionamento que perdurou catorze horas e vinte e oito minutos. Desde o amanhecer naquela festa ao adeus na porta de sua casa. Nesse período de tempo, ele encontrou a plenitude. Ela viu a plenitude dele aflorar. Ela se resignou a dar-lhe a mão, ele queria o sentimento. Muito mais que aquilo que negociaram, o momento. O momento de ficar juntos. Ela aceitou a proposta, ele entendeu errado. Ela seguiu em frente, ele ficou a dar voltas. Até cair tonto de tanta paixão que ainda poderia entregar.

Para isso, ainda guarda os caules das flores, esperando o ano terminar e quem sabe assim, aquelas pétalas que caíram logo nos primeiros dias do ano, voltem a colorir seu buque com cores ainda não imaginadas.

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