sexta-feira, novembro 23, 2007

Verbos no passado

Tudo que ganhei

estava solto no encanto latente

de sua boca.

Rodei mundos, absorvi idéias,

decifrei idiomas para te

encontrar logo ali.

Na esquina.

Apostei fortunas, perdi o afeto,

declarei no rosto, o sono que

atormentava a alma.

Conquistei terrenos, compliquei situações,

motivei processos para explorar

o melhor.

De mim.

Idealizei mentiras, confirmei tristezas,

optei por duvidas que fariam instigar

teu coração.

Por fim.

Estendi o braço, suspirei baixinho,

chamei o seu nome e

você apareceu.

Hoje.

Marcadores:

domingo, novembro 18, 2007

Cartas Marcadas

-Coloque as cartas na mesa, disse ela com veemência.

-Que cartas? Se não estamos jogando baralho. Retrucou ele com aquela ironia que o acompanhava.

-Deixa disso Marcos, vamos falar serio por um momento.

-Maria, eu até tento ser serio, mas há algo dentro de mim que bloqueia.

-O que bloqueia Marcos, é a sua incapacidade de se relacionar. Isso sim é um bloqueio. Você deveria abrir um centro para bloqueios. Olha só a idéia que eu estou te dando.

-Maria, acredite, tudo que eu falo para você brincando é verdadeiro. È algo concreto e quero que seja realizado.

-Ra Rá, riu Maria alto. Você acabou de falar uma coisa totalmente sem nexo e eu tenho que me virar em achar equações e raízes quadradas para decifrar o que você realmente quis dizer.

-Assim não dá, você esta me deixando confuso com esses seus argumentos. O jeito de você se colocar sempre me instiga a bloquear.

-Então o que você realmente sente por mim, é medo né Mario? Medo das conseqüências futuras. Como um filme que tenha uma charada central, mas duzentas periféricas que fazem a central ser esquecida por muito tempo.

-Ora Maria deixe disso. Sempre esse papo. Hoje acordamos numa boa. Tivemos uma noite para lá de interessante, para não dizer excitante. Enchemos os córneos, dançamos ate de manha. A coisa esquentou como nos velhos tempos. Fui dormir achando quer hoje retomamos a direção certa....

-A única direção certa é pela porta. Isso é que eu vou fazer contigo Mario. Já não suporto essa onipresença transparente.

-Onipresença transparente? Olha só você, apontando com o dedo em riste Querendo dificultar a colocação das palavras para que eu pense que a culpa é minha. Simplesmente minha.

-Ah, agora você é o coitadinho que tem um bloqueio, mas não quer se tratar. Quando falo uma coisa mais elaborativa, você surta. Na sua linguagem de computador: Dá tilt.

Marcos pensa um pouco antes de continuar o dialogo, respira fundo e diz:

-Maria, vamos fazer o seguinte! Paramos de nós falar. Por um tempo. Para falar a verdade, o tempo que você achar necessário. Verás que tudo isso é invenção sua. È picuinha tua em relação aos meus modos de operar.

-Marcos, Marcos, Marcos, falou baixinho Maria. Quantas vezes você propôs isso é não cumpriu? Quantas vezes você apareceu do nada, querendo voltar? Que fazemos uma bela dupla e um lê o pensamento do outro. Como se fossemos a intersecção pura do amor que todos nós ansiamos. Que sem mim, não tem futuro! Que sem mim, você não consegue olhar para frente. E por aí vai.

-Mas agora, eu dou minha palavra. Marcos estende a mão para Maria. Ela hesite e logo após, aperta a mão de Marcos.

Está feito, meu caro. A partir de agora viveremos nossas vidas separadamente. Não me venha pedir conselhos ou oportunidades.

Prometido!

Por mim também.

Ótimo chega dessa discussão, não quero saber de mais nada. Alias eu vou é arrumar outra dupla.

È isso mesmo. Acho ótimo, quem sabe assim você me deixa viver um pouco.

É pra já.

Silencio de ambos por alguns segundos até que Marcos não agüenta e fala:

E ai Maria, vai me passar o morto ou não vai?

domingo, novembro 04, 2007

O menino e os sonhos

Todos os dias, perto da meia noite Carlos agradecia a D’s por tudo que acontecera de bom naquele dia e com bocejos, deitava-se na cama e cobria-se ate o rosto com o lençol. Soltava um grande gemido de relaxamento e esperava o sono vir, com pensamentos sempre diferentes. Raramente tinha problema de insônia e também não foi dessa vez.

Dez minutos depois de se deitar, Carlos começou a fazer aquilo que mais gostava na vida: sonhar. Era o único momento do dia em que seu relaxamento era completa e aonde suas idéias, apesar de difusas quando acordado, se esclareciam. Era lá que descobria suas verdadeiras paixões, que encontrava pessoas esquecidas em seu conhecimento, e via paisagens totalmente antagônicas, como uma grande pista de esqui em pleno Rio de Janeiro.

Nesta noite enquanto a brisa da primavera teimava em esquentar o ambiente, Carlos teve seu grande sonho. Sonhava que andava por ruas vazias, sem carros, nem buzinas. De um lado prédios imensos, típicos de um centro de cidade altamente financeira e do outro lado da larga avenida, um campo verde, com a relva sendo banhada pelo sol e pelo vento que teimava em soprar com intensidade. Reparara que em sua mão direita, segurava uma boneca de pano. Pequena, mas robusta, cheia de alegria. Suas roupinhas eram para lá de alegres. Vermelho das saias, camiseta branca com flores bordadas rosa e um sapatinho amarelo. O cabelo preso em Maria-chiquinha denunciava uma suavidade apesar de seus fios encaracolados. Segurava a boneca pela mão, mas puxou-a para perto e a segurou no colo.

Olhou para o horizonte distante e percebeu que lá teria de chegar, O infinito da avenida, nem sequer o abalou. Cheio de coragem, respirou fundo e percebeu que a partir daquele momento aquela boneca fazia parte de sua vida.

O sinal fechou e com ele, Carlos parou. Olhou para um lado, olhou para o outro. De um lado os prédios espelhados, do outro a calmaria. De um lado, toda a tecnologia que ele iria absorver, mas do outro toda a tranqüilidade esperada por anos. Indeciso sobre o que fazer, por um momento ficou tentado em deturpar a linha reta que traçava o horizonte e se emaranhar pela selva de pedra. Era lá que acostumado a tudo, sobrevivia ferozmente a todos os infortuitos que a vida consciente lhe mostrava. Hesitou, respirou fundo e procurou no bolso o cigarro. No esquerdo não achou nada. Colocando a mão no outro, a surpresa, o maço tinha se transformado em flores. A essência que exalava do ramo em sua mão era leve, como de capim limão. Ou era lavanda? Riu pela falta de conhecimento dos cheiros.

- É melhor se acostumar. A partir de hoje, você irá se identificar cada vez mais com esse tipo de coisa! Disse a boneca de pano de repente. Carlos olhou para ela e sorriu. Já sabia que isso iria acontecer, um dia. Só não sabia quando.

Voltou a olhar os vastos campos verdes, mas não entrou como também não entrou pela selva de pedra. Continuou pela reta sem se preocupar aonde teria entrar. Simplesmente percebera que ambos os lados fariam parte de sua vida a partir de agora. Não haveria necessidade de se preocupar com decisões neste instante. As decisões que tomavam diariamente quando acordado, já preenchiam todo seu tempo. Mas já sabia que as coisas iriam mudar radicalmente. Aquela linda boneca dependeria dele, por um bom tempo. Era para ela que toda a sabedoria conquistada e sofrida ao longo de diversos anos ia começar a ser utilizada. Era ela que sorria inocentemente agora. Donde as agruras da distancia entre os dois lados da avenida ainda não se conjugavam. Aonde o que era certo e errado viria dele e não das imagens vistas pelo mundo que ainda não despertara.

Por isso segurou forte a mão da boneca, botou os óculos escuros que incomodavam sua visão e conseguiu enxergar o final da avenida em que se encontrava. Lá viu um grande sofá, uma tela cheio de desenhos, os mais coloridos possíveis e brinquedos dos mais diversos. Viu também delicias comestíveis e inclusive uma lata de coca-cola. Soltou uma longa gargalhada. Mas entendeu isso como uma prova de que coisas muito boas tomariam conta de sua vida daqui pra frente. Virou-se para a boneca e perguntou:

- Boneca, qual é o seu nome? Disse com alegria.

- Pode me chamar de Laura, disse a pequena boneca, um pouco tímida, mas agarrada a seus braços.

- Então Laura, você vem comigo?

Antes de ela afirmar com a cabeça, a pôs sobre os ombros e foram caminhando rumo ao horizonte.

Nesse momento, escutou uma musica diferente daquilo que presenciava. Carlos abriu os olhos e viu que era dia. Viu sua mulher e a beijou. Sorriu, levantou-se da cama sem desembaraço e foi viver pensando na próxima noite de sonhos.




PS: Uma leve homenagem ao casal Blum e a chegada futura de Laura.

Marcadores: