quarta-feira, abril 26, 2006

Aterrisagens e Decolagens

O vôo já estava atrasado há dez minutos. Enquanto isso, Marcos aguardava ansioso por ela no saguão. Chegara cedo, não conseguiu ficar em casa esperando o tempo passar. Era muita emoção para uma noite. Já não dormia ha uma semana. Entre sonos leves e inquietos, predominou a insônia. Sua cara de arrasado contrastava com sua imensa felicidade em reencontra-la. Na sua cabeça era para dar certo e pronto. Ninguém conseguia remover essa idéia. Seu mundo rodava em torno dela. Era com ela que chegava ao orgasmo. Era com ela que sentia a plenitude que se tem numa relação. Completa! Dizia como mantra. Completa para ele.

O avião sobrevoava a imensidão, e o piloto anunciava a chegada em exatamente 50 minutos. Mas todo esse tempo de angustia, dizia ela. Sua ansiedade era grande, suas mãos estavam frias e o suor era corriqueiro. Sua boca estava seca, suas pupilas dilatadas e um pouco de sonolência após o copo de whisky. Não tinha ainda o discurso pronto. Por diversas vezes terminou de ler em voz alta, o que tinha escrito e rasgava. Sua tensão aumentava a cada minuto que passava. Não sabia como esperar a hora do pouso.

Lá na terra firme, Marcos plantado em frente da porta automática preta, era tomado por uma sensação de suspense toda a vez que a porta se abria e alguém desconhecido passava por ela. Sempre por espera-la. Com a mão esquerda no bolso, fazia um daqueles jeitões blasé não demonstrando o que sentia. Num contraponto, na mão direita carregava o imenso buquê de gérberas que tinha encomendado há dias. Ela achará rosas muito corriqueiro, pensou ele diversos momentos. Orquídeas seriam a redenção, mas naquele mês não daria.

Enquanto isso no avião já na descendente, ela fechou os olhos e respirou fundo por tanto tempo, que chegou a se acalmar. A decisão foi tomada no dia da viagem. As coisas muito corridas, espalhafatosas, típicas de situações extremas como essa. Levantou a cabeça e se perguntou quantas daquelas pessoas fariam o que ela iria fazer esta noite. Estava com medo que sua euforia acabasse com tudo.

O tempo não passava. Marcos foi comprar um café e ficou observando aterrisagens e decolagens. Gente que ia embora por algum motivo e gente que chegava com esperança e renovação. Era desse modo que a esperava. Tanta coisa a dizer, tanta coisa para viver. Tinha certeza que dessa vez não tardaria em tê-la para sempre. Foi quando viu seu avião descendo lentamente. Seu coração disparou, sua boca secou. Foi lavar o rosto no banheiro. Parecia um moleque de 13 anos quando tentava transparecer para aquela alguém o quanto a quis.

Assim que a rodas tocaram o chão, seus olhos fecharam. Tinha de ter coragem suficiente. Não estava mais conseguindo segurar a emoção e lagrimas escorreram por seu rosto. A decisão tomada ao passar pelo check in não poderia ser revogada. Levantou da cadeira e foi interpelada pela aeromoça que pedia a ela que mantivesse os cintos afivelados ate a parada completa. Nem deu ouvidos a ela.

No saguão, Marcos suava. Na porta do avião, ela era uma das primeiras a sair apressada. No saguão, Marcos, com o coração apertado sorria nervoso esperando o abrir das negras portas automáticas. No corredor, seu andar se intensificava, e ela não pensava em mais nada. No saguão, Marcos pode avistar diversas pessoas esperando suas malas. No banheiro, ela repetia para si mesma sua decisão. No saguão parado, Marcos apertava cada vez mais as flores em seu peito esperando o momento de vê-la. De longe, ela avistou Marcos. De longe, Marcos a viu. Sua primeira impressão foi de êxtase total. Abriu os dois braços como querendo abraçar o mundo. Atravessando a porta, ela abaixou a cabeça um pouco envergonhada. Marcos petrificado, ajoelhou-se esperando um longo e tenro beijo. Estática ela parou em sua frente e o olhou. Marcos frustrou-se um pouco e a olhou fundo nos olhos.

Ela foi a primeira a falar. Ao invés de beija-lo com intensidade, contou o real motivo de sua vinda. Precisara contar no momento que descera na cidade forasteira. Não conseguiria fingir para ele o que realmente a afligia.

Tenho outro alguém, disse ela.
Me desculpa Marcos, mas não me sentiria bem falando isso pelo telefone – continuou ela.
Precisava ser isso ao vivo, cara a cara, como sempre fui transparente – completou. Mais uma vez, desculpa.

Passou a mão em sua cabeça, virou de costas chorando e foi ao embarque para não perder o próximo vôo de volta. Estava triste, mas leve. Leve consigo mesmo, não por tê-lo machucado, mas por ter sido verdadeira.

Enquanto isso, Marcos ainda em pé e em choque, acompanhava seus passos indo embora da mesma forma que um dia chegaram. De avião.

segunda-feira, abril 17, 2006

Chuva

Naquele momento, os pingos se intensificaram. Na batida das telhas, Marcos percebeu o que as nuvens carregadas estavam trazendo desde o sul. Foi para a varanda e lá ficou. Deixou a chuva cair. Por minutos deteve-se de conversar com alguém. Enquanto os outros descansavam do estupendo almoço, ele olhava. Olhava pro nada, olhava para o horizonte, olhava todos ao seu redor. Por um instante agradeceu aquela repentina baixa na temperatura, aquele barulho diferente batendo na terra, aquele cheiro de orvalho que teimava em sair das copas das arvores naquele fim de tarde de sábado.

Observava incrédulo seus últimos passos, ao mesmo tempo em que tentava identificar lá longe o que poderia ser a abertura do arco-íris. È para lá que eu vou, falava para si. Tivera o dia para rir, e fez com prazer sua parte. Mas como qualquer coisa que passa pela cabeça, fechou-se. Fechou-se como o tempo. Algo dentro dele nebulou-se. Sua euforia foi tomada por pensamentos nefastos. Nefastos pelo simples fato que bloqueavam seu excesso de felicidade. Não pode controlar suas emoções e passou o resto do dia oscilando seu temperamento de forma, que não atrapalhasse suas relações pessoais e temporais.

Levantou a xícara e soprou o aroma do café. Suas mãos estavam quentes, mas seu coração vazio. Isso mesmo. Tivera uma recaída. Na plenitude de sua felicidade, seu estado de euforia inverteu-se. De tudo aquilo que sorria, agora dava risadas de seu estado fantasioso em que esperava encontra-la ao seu lado. Esse mesmo estado que fez com que abrisse sorrisos para qualquer coisa que o fitasse. Abobalhado deveria estar.

No exato momento que abaixou a cabeça, olhando para um inseto tentando camuflar-se, percebeu o que era aquela chuva. Aquela torrencial chuva não passava de ser seu choro, seu desespero. Seu mais inocente choro, clamando por ajuda daquilo que não esquece, daquilo que teima em não sair de sua cabeça, daquilo que acreditara ser o verdadeiro amor que lhe roubaram.

Naquele dia soube que seu desespero dava os últimos sinais. Seu inconsciente lutava para manter viva a chama de sua paixão por ela. Por algum tempo foi conivente com seu inconsciente e se curvou ao pecado da lembrança. Depois daquele sorriso vespertino, acreditou que já bastava o que tivera passado. Como uma borracha que teima em apagar, optou pelo jeito mais extremo: a chuva. Meteu-se a andar até a enorme vista para o mar e molhar-se ate dizer chega.

Foi borrar tudo aquilo que passara.

segunda-feira, abril 10, 2006

Suor

Sua!

Sua, porque necessita expelir.

Necessita expurgar. Quebrar tudo!

Acabar com esse dilema. Acabar com dias que te fazem mal.

Dias esses que não concentra em nada. Só pensa.

Pensa no que poderia ter ocorrido, pensa porque ainda não nos encontramos. Pensa quanto falta para receber algo.

Angustia.

Angustia presente na sua imensidão.

Angustia no desenvolvimento das palavras, afobação na execução.

Tudo aos trancos e barrancos.

Nada concreto.

Tudo utópico.

Cabeça de adolescente, corpo adulto.

Intersecção complicada.

domingo, abril 02, 2006

Um caos chamado Joana

A sapiência diz que devemos olhar para tudo que nos interessa. É dessa forma que enxergo toda vez que vejo Joana andando por aí. De alguma maneira, desde o primeiro momento que a vi, não soube discernir o certo do errado, o alto do baixo, o bem do mal. Toda a vez que a vejo passar, é como uma leve batida numa meia-lua ao fundo, simplesmente acompanhando sua evolução pelos lugares. Confesso que não a vejo muito, mas cada vez, te prometo é uma sensação nova. Você logo imagina, com tanta beleza e inteligência juntas, que nada a suprima. Sua confiança é inabalável e cabe a você, mero mortal, seguir seus passos e suspirar. Não só você, como todos aqueles que você perceber estarão olhando para tudo que lhes interessar. Neste caso Joana.

Mal sabem os tolos, que Joana passa por uns piores momentos de sua breve vida. Ao passar uma imagem de forte e decidida, só transparece aos mais sábios, sua fragilidade e sua inexperiência, com que o mundo tende a lhe dizer. Por estar sempre em segundo plano, observo as coisas de uma maneira mais delicada, menos realista, como se pudesse entender o momento que ela passa. Ao olhar profundo em seus olhos sei que algo a incomoda, mas não ouso perguntar. Não cabe a mim a resposta. Simplesmente a ela mesma. Ela tem que sentir essas coisas, para que aprenda. O certo seria nunca vermos, mas seria utopia de minha parte. Isso a fará ser melhor. Isso a fará bem. Isso elevará seu grau de formosura, conseqüentemente compostura.

Sei que algo vai mal, seu mundo ruiu. No começo pelo impulso, achou que tudo tinha ficado claro. Iludiu-se ao perceber que não era isso que a aguardava. Os dias foram passando e como à cura de um vicio, viu-se dependente. Dependente de alguém, dependente de carinho e amor. Dependente de um resguardo, de um abraço forte quando precisava e de um beijo quando acalentava paixão. Como a fina areia que se escapa entre as mãos, foi se olhar no espelho numa noite de sexta-feira. Estava só. Quem diria que Joana ficaria só. Num breve momento achou-se superior a tudo, com a vida engatilhada, traçando planos para um futuro. Este qual que foi brevemente enterrado até que se descubra uma nova forma de atração.

Mesmo assim, não dá ponto sem nó. Quem a vê não entende sua rigidez, seu estado lisérgico de transmitir que tudo está bem. Belíssima máscara que só os fracos e sem afeto caem. Mas para mim, tudo não passa de insegurança e tristeza. Sei que são fases. Tanto eu como você que lê esse caos, sabe do que estou falando e se tens um pingo de paixão no corpo, sentirá por Joana.

Posso ajuda-lá. Posso fazer com que ela minimize o passado e concentre no presente, tentando achar uma nova razão de seguir em frente, descobrindo alguém pontual. Que há faça sorrir da mesma maneira quando sorriu delicadamente naquela tarde de sol a caminho do outono, ao acender seu cigarro. Naquele instante percebi seu caos. Naquele instante percebi seu olhar. Naquele instante continuei acompanhando seus passos pelas sombras das copas dos flamboyants que preenchem minha vida com bem estar.

Calma que o tempo passa.