quarta-feira, outubro 27, 2010

Hace tiempo, no?

Tenho a dizer que fazia tempo que não escutava uma simples notícia dela. Só me lembro de nós dois na lavanderia, sentados em cima de algumas máquinas de lavar vazias enquanto esperávamos nossas roupas serem lavadas. Estávamos num lugar estranho, para ambos. E neste lugar estranho é que contávamos alguns de nossos sentimentos mais sinceros..

Naquela noite de Janeiro no Hemisferio Norte, fazia bastante frio, fumávamos cigarros contando de nossas experiencias de vida no começo dos vinte. Achávamos que tudo estava indo a favor da corrente, mas muitas coisas nos angustiávamos e era necessário falar. Para quem, não sabiamos? Só tomamos conta das revelações e sentimentos desprendidos quando voltei do telefone público com a noticia que tinha conseguido ligar para aquela menina que tanto me atormentava desde o momento que nos cruzamos, sem querer numa esquina da cidade. Para ir atrás dela, passei por diversos obstáculos, e com o numero na mão, já estava há dois dias, sem a coragem necessária para um simples alô. E se ela respondesse com um OK, ou com um não obrigada? Isso, passados dez anos, ainda não tive a certeza. Do seu rosto tambêm não tenho a certeza, ele se evaporou juntamente com outras centenas de coisas que acontecem diariamente em nossas vidas.

E essa menina que estava fumando cigarros comigo numa lavanderia, nunca mais saiu da minha cabeça. Se nutri uma paixão platônica por ela, nunca saberei porque com ela nunca mais encontrei. Ainda divago por aí, querendo saber o que ocorreu com ela para afastar-se de todos. Ainda me pergunto o que leva uma pessoa a escapar, a fugir, a começar uma nova vida, com uma nova identidade mesmo sendo ela mesma. Pois sua cara não mudará, seus pensamentos ainda serão aqueles que conversávamos. Com certeza mais maduros como os meus.

Eu agradeço a ela pela força que me passou naquele momento, em que uma simples frase ou quem sabe, um conjunto de frases, me ajudou a romper uma barreira absurda no fazer e não fazer. Essa história me marcou profundamente. Me lembro de ficar olhando as pessoas, na maioria, imigrantes no novo país, passando por mim, cada um com sua diversidade, mal sabendo que naquele momento rolava um cumplicidade entre duas pessoas que se gostavam como gente.

Ainda hoje me pego perguntando para as pessoas que um dia foram próximas a ela, como eu fui, seu paradeiro. Muitas não sabem, o que faz minha angústia aumentar. Muitas tentam o contato e são rechaçadas. Me parece que tudo aquilo que ela viveu está guardado embaixo do tapete, juntando os cacos de alguma emoção equivocada ou sentimento desiludido. Ainda acredito que um dia não poderá mais ter lugar para guardar tanta coisa lá e isso transbordará. Nesse instante eu imagino que ela irá procurar alguém. Não a mim que estou longe, mas alguem mais próximo que olhará em seus olhos com ternura e a desculpará pela reclusão imposta pela vida.

A beleza de seus trejeitos será novamente observada por nós e o encontro será bueníssimo ( como dizem alguns). A vontade de saber o que passou em sua cabeça ao longo desses longos anos será desmistificada e daremos risadas juntamente com os outros sentados em alguma paisagem magnífica que o tempo nos trará.

Ontem escutei uma notícia dela. Não vejo sua cara desde então. Não sei o que o tempo fez com ela, porém começo a descobrir o que ele fez comigo. Ela casou e esperava um filho. O presente foi adiado, meu coração apertou e de novo me imaginei sentado naquele mesmo lugar com ela como há dez anos. Porem ao invés de acender um cigarro e comemorar um feito em conjunto, a abraçaria. Forte, para pensar toda a deliciosa alegria de saber que ela de alguma forma, ainda faz parte da minha vida. E que estarei com ela onde estiver.

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segunda-feira, agosto 23, 2010

El

Caíste do céu

sobre um pote de mel.

Desenhei-te com um pincel

cores vivas sobre o papel

sorrindo num carrossel.

Amarrei-me num carretel

para te buscar no hotel

onde comeremos um pastel

e de sobremesa, mirabel

sentados abraçados sob uma lua de féu.

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Poeminha rimado da tarde fria

Desde pequeno era triste,
por isso se enervava com dedo em riste,
ate encontrar aquilo que procurava,
percorria ruas gelidas e chorava.
porque não queria que o ano passasse,
sabendo que o futuro talvez o frustrasse.

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terça-feira, junho 09, 2009

Mudanças coloridas

Das grandes janelas do auditorio podia ver as arvores floridas de uma primavera atipica. Sem mais o que pensar entrou pela porta rumo a escuridão que o esperava.

Chegando lá, percebeu que nada via. E desse nada, quis afogar-se. Ao invés disso, uma mão foi lhe estendida. Mas no escuro nada via. Então a mão o tocou. Bruscamente o levou a uma sala, um pouco mais iluminada que a escuridão. Porem nessa sala de um cinza escuro, tambem nada via. E por defesa, tambem quis afogar-se. Prendeu a respiração e fechou os olhos. De novo, a escuridão da primeira sala.

Empurrando, o nada para deixa-la, foi puxado novamente. Bruscamente, foi jogado a uma outra sala. Levantou-se com dor na costas e nos braços. Esfregou os olhos e a nova sala de cinza passou para um cinza chumbo. Ainda era escuro porem avistava algo. Via vultos, casas e arvores. Nunca pediu aquilo e fechou os olhos. Implorava pela escuridão. Apertou o nariz e quis afogar-se. Ainda não escutava nada. Mas na sala cinza, algo se tornava roxo. E , uma mão levemente o tocou. Abriu os olhos para ver o que era e, como num segundo, caiu numa sala cinza clara.

Refazendo-se de mais uma brusca viagem, avistou vultos mais nitidos, casas com jardins e arvores floridas. Caminhou um pouco, porem a sala não era grande e ficou preso a suas medidas. Quis empurrar a parede transparente mas já não tinha forças. Socava a parede para ver se alguem o escutava. Antes de socar pela ultima vez, uma mão o segurou e, num segundo, foi arremesado a outra sala.

Deitando no chão, com o corpo todo doendo, abriu os olhos e a claridade emanava, de uma forma que o cegava. O que adiantaria a claridade senão se enxergava. Implorou pela escuridão novamente. Sua prece não foi atendida e com as mãos sobre os olhos caminhou. Por horas esteve caminhando com os olhos fechado. Começou entnao a acostumar-se com aquilo. A partir de agora imaginaria tudo que gostaria. Assim a vida se tornaria mais bela e pura. Sabia que talvez toda aquela claridade nunca cessaria. Mas a sua vontade de viver atraves de seus proprios sentimentos e discernimentos bateu mais forte. E quando pensava na figura mais encantadora de sua vida, uma mão o tocou levemente. Sabendo que seria novamente tragado, tomou coragem e tirou as mãos do rosto. Abriu os olhos e viu nitidamente o vulto a sua frente. Mas desta vez nada o puxou. Ouviu o barulho do vento, dos passaros e sentiu o cheiro de terra. Sorriu pela ultima vez e caiu para sempre na imensidão desconhecida.

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quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Feliz ano novo

O desejo de feliz ano novo foi rápido e burocrático. Ninguém poderia dizer que a historia daqueles dois terminara no rápido beijo de boa noite. Dela poderia esperar qualquer coisa, livre, irônica, despojada, cheia de si, mas com um enorme peso na consciência em não realizar tudo aquilo que lhe importava. Já ele carismático, de bem com a vida e esportista, só poderia se esperar um sussurro tenso debaixo dos lençóis e um desabafo alto para a paisagem que o constrói. Mas não foi isso que aconteceu.

Ambos ficaram pensando nas semanas que se passaram. A intensidade do relacionamento e a vontade de se querer estavam latentes desde aquele passar de lábios rente um ao outro no primeiro encontro. Ninguém sabia da existência do outro, muito menos seus passados. Por isso a certeza que ele possuía foi se definhando dia após dia. Ao lado do telefone esperava uma resposta para aquilo que já sabia. Que dois corpos não se gostam tão intensamente iguais. Enquanto ele deixava o tempo passar, ela já ia esquecendo de sua forma, de seu corpo e de seu trejeitos. Malditos trejeitos que ficaram a deriva quando o barco adernou. Saberia ela que aquilo naufragaria? Seria ela sua própria sabotagem? Seria ele mais uma vitima do amor não condicional de alguém?

A cada sinal de transito que atravessava, retirava uma pétala de flor. Seu caminhar ficara lento e repetitivo. A cada sorriso correspondido, uma sensação de vazio. A cada palavra pronunciada, uma lágrima brotava. Não tinha vergonha de esconder. Apos efêmeros anos, sentia-se vivo novamente. Seu coração pulsará, como não fazia há tempos. Sua voz embargada ao telefone denunciava a sensação pura de paixão. E ela percebeu. E no que percebeu, sabotou.

Autoritarismo, falta de expressões e acima de tudo, normalidade. A indiferença sobre situações diversas, a falta do riso pleno e a simpatia por ser livre, logo de cara, minaram o relacionamento que perdurou catorze horas e vinte e oito minutos. Desde o amanhecer naquela festa ao adeus na porta de sua casa. Nesse período de tempo, ele encontrou a plenitude. Ela viu a plenitude dele aflorar. Ela se resignou a dar-lhe a mão, ele queria o sentimento. Muito mais que aquilo que negociaram, o momento. O momento de ficar juntos. Ela aceitou a proposta, ele entendeu errado. Ela seguiu em frente, ele ficou a dar voltas. Até cair tonto de tanta paixão que ainda poderia entregar.

Para isso, ainda guarda os caules das flores, esperando o ano terminar e quem sabe assim, aquelas pétalas que caíram logo nos primeiros dias do ano, voltem a colorir seu buque com cores ainda não imaginadas.

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sexta-feira, dezembro 26, 2008

Janela Indiscreta

Certo que há semanas as luzes do prédio em frente ao meu ficavam acesas durante todo o dia e também durante a noite. Sempre quando chegava de madrugada vindo de algum lugar, a claridade daquele apartamento sempre iluminava meu corredor, tornando mais fácil minhas idas ao banheiro e ao quarto. Mas havia naquela claridade algo que me incomodava.

Nas primeiras vezes resmunguei que aqueles deviam ser sócios da companhia elétrica, pois não estavam a par do gasto astronômico. Com o passar dos dias, minha cabeça começou a imaginar outras funcionalidades para aquele apartamento. Poderia ser uma empresa que trabalhava dia e noite, uma central de farmácias quem sabe, ou um banco de investimento que operava tanto as bolsas de Tóquio, Hiroshima Nagasaki como as bolsas de Nova York, Ohio Texas. Depois de uma brilhante dedução que não se passava de um grupo de arapongas do governo espionando a lavanderia clandestinas de algumas moças do nordeste brasileiro que não pagavam impostos, comecei a relaxar e fui comprar alguns limões para complementar a minha bebida do momento, gin Tonica.

Passando pelo mesmo prédio, naquele começo de noite, vi as luzes do apartamento piscarem três vezes para mim e ainda assobiar fiu-fiu. Pisquei de volta tonto com o flerte indecente que aquele conjunto de janelas esbranquiçadas me fizera. Resolvi apertar o passo e ainda sofrendo daquele flerte acabei trazendo lima da pérsia ao invés de limão. E não é que ficou bom?

Chegando em casa suado de tantas peças de roupas juntas decidi me despir e respirar o ar puro da cidade poluída que morava naquele inverno rigoroso no hemisfério norte. Para minha total surpresa, vi que no apartamento existia um homem ou mulher. Não estava certo sobre o que era devido ao cabelo grande que caía sobre os ombros daquela pessoa. Porem o bigode ralo no canto da boca me deixava mais intrigado.

Temendo por minha própria integridade física, resolvi ligar para a pizzaria e pedir uma pizza media de portuguesa, sem azeitonas, que retifiquei no telefone. Perguntaram me sobre a bebida e respondi que por agora ficaria com meu gin Tonica. Me deram o prazo de 30 minutos. Retruquei dizendo que nessa meia hora algo de muito ruim pudesse me acontecer. E foi o que aconteceu. Aquela maldita coxinha que comi ontem a noite estava fora da validade já que a guardei juntamente com as frutas na fruteira.

A campainha tocou no momento que saia do banheiro aliviado. Antes de abrir a porta notei que as luzes do apartamento de frente estavam apagadas. Temendo o pior, pedi para o entregador se apresentar deixando a pizza de lado, num numero circense de um minuto. Estranhando meu pedido, mas de acordo com o slogan da pizzaria de que fazem qualquer pedido, começou a dançar um folclore russo que a cada batida de palmas era acompanhada com um HEY!

Malditos russos, logo pensei. São eles que estão por trás de todo o desperdício de energia elétrica da cidade. E não eram os gatos que saiam no jornal vespertino. Achei melhor contar para alguém. Como já era tarde, voltei me ao entregador de pizza, dei-lhe o dinheiro e ainda insisti para que ficasse com o troco. Num português capenga ele me agradeceu sem antes me entregar um envelope vermelho. Temendo ser uma carta bomba, peguei as luvas de borracha e com cuidado abri o envelope. Surpreso ao ver que dentro só havia um panfleto com os novos sabores da pizzaria, rasguei-o com toda a raiva do mundo execrando a todos que me renegaram um desconto na compra da próxima pizza.

Desconfiado porem enfastiado, resolvi me concentrar na janela fazendo sinais específicos para aquela claridade toda. Com o livro de código Morse ao meu lado, demorei cerca de uma hora para transmitir toda a mensagem aos arapongas. Eles responderam rapidamente, mas só fui descobrir na outra manhã debruçado sobre os livro na mesa que aquilo tudo que mandaram dizia:

- Obrigado pela receita. Faremos esta noite. Está convidado.

Não pensei duas vezes, sai de casa correndo até a loja mais próxima e comprei um belo terno azul turquesa sem listras. Fiquei imaginando o que seria do meu jantar de hoje se aquelas intermitentes luzes do apartamento da frente estivessem desligadas nos finais de semana.

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quinta-feira, dezembro 11, 2008

Verbos II

Posso.
Posso, mas não quero.
Tenho.
Tenho, mas não possuo.
Peço.
Peço, mas não consigo.
Vivo.
Vivo, mas não sinto.
Sofro.
Sofro, mas não resolvo.
Verso.
Verso, mas não fraseo.
Beijo.
Beijo, mas não abraço.
Diga.
Diga, mas não fuja.

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