terça-feira, agosto 14, 2007

Duplo ciúme

Não é de hoje que o numero dois é maior que um. Vem desde sempre. Porem às vezes, um é melhor do que o dois e vice versa. No caso de Fabrício, o dois teve um significado ruim no dia de hoje. Ele sofreu uma dupla decepção. Vocês podem achar, de fato, que essa é um historia triste, porque decepção costuma significar coisa ruim.

A euforia conquistada ao longo do tempo fez com que aumentasse a auto-estima de uma forma que estufasse o peito como um pombo-rei a procura de acasalamento. Mas dentro das conjunturas humanas, não necessariamente, o peito estufado significa acasalamento, pode ser excesso de confiança prestes a desabar. E foi isso mesmo que ocorreu no curto espaço de tempo que Fabrício avistou seus dois futuros amores. Porém esses dois amores estão cada vez mais distantes, trazendo para o presente à certeza de um futuro para lá de demorado.

(Peraí! Isso esta parecendo sessão psicanálise de revista de domingo. Voltarei a história.)

Na manhã, acordou sem ajuda do temível despertador, e ficou se espreguiçando alguns minutos antes de abrir a janela e verificar o sol a pino. Não teve duvida. Meteu um short, deu oi a todos que moravam em sua casa, calçou o tênis e foi se exercitar.

Durante a corrida, percebeu uma euforia incomum dentro de si. Era como estivesse plenamente satisfeito com aquilo que fazia. Seu salário era razoável, seu carro também. Não lhe faltava nada, mas pensava que lhe faltava tudo. Mesmo extremamente satisfeito com as pisadas certeiras em direção ao objetivo, sentiu a falta inesperada que já sabia o que era. Continuou mesmo assim, transpirando cada vez mais, contemplando a paisagem e solidificando a imagem da geladissima água de coco no quiosque final. Após hora e meia de exercício, ainda eufórico, decidira ir a praia para mergulhar. Foi aí que tudo começou.

Já no caminho encontrou a primeira. A primeira de suas paixões. Por estar suado, não se atreveu a travar muita conversa pelo fato do cheiro a exalar pudesse ser prejudicial no futuro. Uma rápida conversa a um metro de distancia, e pronto. Não queria se estender. Afinal sua primeira paixão tem alguém. Mal sabe ela que o futuro ainda me aguarda. Saiu com aquilo na cabeça e não se estressou com o fato de ter desperdiçado, segundo ele, mais uma oportunidade. Ainda haveria outros. Mas aquilo o machucou um pouco, porque não era de ferro, muito menos de aço.

Chegando a beira mar viu o montão de gente amontoada no pequeno espaço de areia formado após a ressaca do dia anterior. Esquivando-se de barracas e cangas multicoloridas, Fabrício foi chegando ao mar pronto para mergulhar. Checou a temperatura, molhou os dois pulsos e a nuca, já que dizem que diminui o “choque térmico”, e mergulhou. Por lá ficou apenas alguns minutos contemplando a imensidão do oceano. Furou algumas ondas e as utilizou para voltar a areia. Saiu e ficou observando o movimento constante dos jovens ao seu redor.

Foi nesse instante que viu seu grupo de amigos conversando animadamente debaixo da barraca laranja. Não conseguiu ver todos então pegou suas coisas que deixara junto ao barraqueiro e seguiu em direção a eles. Ao chegar fez a festa, brincou com cada um, e foi simpático. Porem algo o deixou incomodado. Sua segunda paixão estava acompanhada. Deduziu quando esta passou a mão carinhosamente pela perna de outro e se confirmou no beijo carinhoso que ela dera no braço de seu novo namorado. Diferentemente das outras vezes que brincou, desta foi educado e não demonstrou simpatia nem afeição por ela. Resignou-se a conversar com os outros por alguns minutos. Porem aquilo já era demais para um curto espaço de tempo. Para não ficar mais chateado, achou melhor dar-se por encerrado o expediente na praia. Inventou que tinha obrigações a fazer, secou-se ao vento e saiu com o tênis de corrida debaixo do braço e foi caminhando até em casa.

Resolveu tentar pensar em outras coisas que pudessem trazer conforto a seu coração. Realmente conseguiu. Naqueles próximos quarenta minutos, pisando descalço sobre ruas e avenidas, Fabrício pode contemplar as razões que delineavam seu futuro. Incluindo aí suas duas paixões momentâneas. Pode ser que daqui dois meses Fabrício possa estar com uma, ou três paixões. Não mais duas. Sofrera um duplo ciúme numa tarde. E sentiu-se só. Mas de uma coisa tinha certeza e não abria mão, que no futuro alguma paixão seria verdadeiramente dele.

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1 Comments:

At 11 setembro, 2007 19:52, Blogger Simone Couto said...

triste.todo mundo precisa de beijo, todo mundo precisa de amor. Quem não?

 

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