sábado, março 15, 2008

O único sentimento

Podre, era o cheiro que vinha do sala. Estava trancado no quarto, chutando a parede. Até machucar. Não conseguia controlar suas emoções e quanto mais chutava, mais se descontrolava. Isso perdurou por alguns minutos. Ofegante de tantas coisas ao mesmo tempo, desabou sobre o chão de carpete e chorou até secar os olhos. Isso demorou. E demorou. Ninguem veio acudi-lo, pois ninguem iria acudi-lo. Estava só naquele instante e provavemente no futuro tambem. 

Esperava uma informação plausivel para seus ultimos pensamentos. Justificava o porque daquela situação inteira ter virado um pandemônio. E mais precisamente, não estava preparado para a noticia que escutara.

Olhava para os lados em desespero, exacerbado pela incapacidade de reagir. Pela insensatez alheia e pela insuportavel resposta que fora dada por ela. Era pó, era cinza. Era o pior dos piores. Sua súplicas de mudança não adiantariam nada. Seu perdão por algo que não fizera muito menos. O descontrole só chegara no quarto trancado. Antes mantivera a compostura, provando para si que era forte o suficiente para enfrentar aquele processo recem descoberto.

Enquanto se debatia, o que estaria ocorrendo com os outros? E o sorriso que desaparecera? E a formosura que foi embora? E a destreza da bela vida? Tudo não passava de vertigem. De uma eterna vertigem que não duraria para sempre, diriam os pessimistas. Mas que fosse eterna. Mas nada, simplesmente nada torna o que ocorreu na sala eterno. Com um corte profundo em suas veias, arterias, entranhas e viceras, ele sucumbiu. Foi derrotado, linchado, espancado e estuprado moralmente. Passou de garanhão a cordeiro. O que estava azul no horizonte, sumiu. 

Odio, raiva, risos e choro não se misturaram quando ele estava lá plantado, sentado na mesa de jantar debruçado sobre o candelabro. Enquanto falava, só observava a cera que caía desforme sobre o tampo de vidro. E lá ia retirando com unha, toda a esperança que depositou na relação. Estupido foi pensar que o infinito duraria. E durou. O tempo estipulado por ela, pois não teve culpa pelo ocorrido.

Ela ficou muda. Ele ficou mudo. Não a olhou mais. Consentiu. Não tinha o que fazer. Foi interrompido. Ela perguntou do seu sentimento. Ele demonstrou seu sentimento me retirando, sem responder. Destruido pelas palavras, consumido pelo que escutava, desesperado pelo que via. 

Abriu a porta do quarto e deixou a bater observando a silhueta da sombra da mesa. Depois não viu mais nada. A escuridão o abraçou.

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