Chuva
Naquele momento, os pingos se intensificaram. Na batida das telhas, Marcos percebeu o que as nuvens carregadas estavam trazendo desde o sul. Foi para a varanda e lá ficou. Deixou a chuva cair. Por minutos deteve-se de conversar com alguém. Enquanto os outros descansavam do estupendo almoço, ele olhava. Olhava pro nada, olhava para o horizonte, olhava todos ao seu redor. Por um instante agradeceu aquela repentina baixa na temperatura, aquele barulho diferente batendo na terra, aquele cheiro de orvalho que teimava em sair das copas das arvores naquele fim de tarde de sábado.
Observava incrédulo seus últimos passos, ao mesmo tempo em que tentava identificar lá longe o que poderia ser a abertura do arco-íris. È para lá que eu vou, falava para si. Tivera o dia para rir, e fez com prazer sua parte. Mas como qualquer coisa que passa pela cabeça, fechou-se. Fechou-se como o tempo. Algo dentro dele nebulou-se. Sua euforia foi tomada por pensamentos nefastos. Nefastos pelo simples fato que bloqueavam seu excesso de felicidade. Não pode controlar suas emoções e passou o resto do dia oscilando seu temperamento de forma, que não atrapalhasse suas relações pessoais e temporais.
Levantou a xícara e soprou o aroma do café. Suas mãos estavam quentes, mas seu coração vazio. Isso mesmo. Tivera uma recaída. Na plenitude de sua felicidade, seu estado de euforia inverteu-se. De tudo aquilo que sorria, agora dava risadas de seu estado fantasioso em que esperava encontra-la ao seu lado. Esse mesmo estado que fez com que abrisse sorrisos para qualquer coisa que o fitasse. Abobalhado deveria estar.
No exato momento que abaixou a cabeça, olhando para um inseto tentando camuflar-se, percebeu o que era aquela chuva. Aquela torrencial chuva não passava de ser seu choro, seu desespero. Seu mais inocente choro, clamando por ajuda daquilo que não esquece, daquilo que teima em não sair de sua cabeça, daquilo que acreditara ser o verdadeiro amor que lhe roubaram.
Naquele dia soube que seu desespero dava os últimos sinais. Seu inconsciente lutava para manter viva a chama de sua paixão por ela. Por algum tempo foi conivente com seu inconsciente e se curvou ao pecado da lembrança. Depois daquele sorriso vespertino, acreditou que já bastava o que tivera passado. Como uma borracha que teima em apagar, optou pelo jeito mais extremo: a chuva. Meteu-se a andar até a enorme vista para o mar e molhar-se ate dizer chega.
Foi borrar tudo aquilo que passara.
3 Comments:
querido Bruno,
Bem-vinda "chuva"!!!
Ainda não li, mas agora mesmo vou ler e depois te escrevo mais.
un beso,
Gabriela
Me molhar nessa "Chuva" borrou-me o choro e devolveu-me à inocência...
Muito obrigada :-)
um beijo
muito bom !
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