terça-feira, fevereiro 14, 2006

Transito caótico num setembro perdido

Pelo final do tunel sinto que algo está diferente no elevado. Sol a pino e carros freiando. O que deveria ser uma simples batida entre dois carros e um poste, acabou se tornando uma tortura. Sem saída? Nem tanto. De um lado vejo o oceano azul com sol batendo em suas ilhas e asa deltas e parapentes cruzando a pedra da gávea, e do outro lado, mato como qualquer outro. Resolvi prestar atenção ao mato. Apesar de ter arvores, chão úmido típico da região e lotado de bichos, encarei-o de uma forma que nunca tinha visto. Afinal de contas quando parei no Elevado ? Nunca!

Meia hora para andar poucos metros!!! Realmente algo aconteceu! Bom momento para pensar em algo corriqueiro e que aporrinha sua cabeça, mas não, vc só pensa no mato. O que poderá sair daquelas arvores, bichos e chão úmido? Olho para os lados e todos com a mesma cara de desespero. Será que virá arrastão? O velho no Golf traga seu cigarro apreensivo pela fresta de sua janela blindada. O parafinado vascaíno da Kombi sai repetidas vezes de seu posto de motorista para admirar o cenário em volta, não acreditando que naquela tarde algo iria entretê-lo. A senhora ruiva da picape, nervosa indagava a sua mãe o que seria de tão ruim para o transito estar daquela maneira. E eu pensando no que moraria naquele espaço de mato. Pensei na tranqüilidade da bicharada invertebrada que assistia aquilo atônita, preocupada somente em seguir seu caminho e se proteger contra o predador do espaço. Levando para meu caso, estávamos todos a procura de um predador para aquela situação. Algo que pudesse suprir nossa falta de expectativa pelo momento que estávamos passando de pura falta de defesa.

Alivio, pensei depois. Era simplesmente fogo numa casa que atrapalhou meus planos para o final da tarde. Ficar sentado dentro de um carro tantas horas vendo a mesma paisagem e inalando fumaça é ruim, porem ajudou a passar o tempo que estaria de cara amarrada procurando algo para fazer, não pensando no tino comercial que deveria ter ou pelo fato de mostrar aos outros quão competente eu sou para receber meu ganha-pão. A minha válvula de escape foi o mato que me ajudou a esquecer o que deveria estar fazendo com minha roupa social amarrotada e pelo calor que fazia minha meia grudar cada vez mais em meus pés. O mato pode trazer a tranqüilidade no pequeno espaço de tempo que tive. Depois tudo voltou ao normal. Buzinas, fechadas, ônibus lotados, vans trapaceiras cortando pelo acostamento com pessoas desrespeitosas que tornam o dia dia mais complicado. Cada um querendo tirar proveito do tempo perdido como se fosse crucial recuperar o que simplesmente ocorreu.
Enquanto isso, olho pelo retrovisor e vejo o velho no seu Golf blindado tragar forte seu terceiro cigarro.O que o aflige?