Tchutchucas e Nhá Benta
Não posso chamar isso de crônica, muito menos de relato. Me veio a idéia no chuveiro cantarolando uma musiquinha do Casseta Popular, anterior ao Casseta e Planeta. Puxei do fundo do baú. Espero que você conheça. Com sotaque paulistês, eles cantaloravam assim: - Eu sou adolescente da sociedade de consumo/ Bala Juquinha e supra sumo/ Eu gosto de comer Ana Maria e Nhá Benta da Kopenhagen/ Eu gosto de balinha maravilha e revistinha de sacanagem!!!! Aí repetiam o refrão.
Neste fim de semana que passou, posso dizer que participei da FLIP. Para os que não conhecem é a Festa Literária Internacional de Paraty. Despretensiosamente mandei dois textos tempos atrás quando chamava urubu de meu loiro e tinha dificuldade de saber se tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais. Caraca, depois de um mês eu fui selecionado. De 350 pessoas de todos os lugares que mandaram seus trabalhos, 30 foram selecionados. Um deles fui eu. Fiquei todo prosa. E nada para levantar um pouco o ego do que contar para os amigos que estão tão distantes. Já não sabem de você nem você tampouco. Mandei um link com meu nome embutido, num release de imprensa. Não é sempre que você aparece num release de imprensa.
Depois de um dia, abri meus emails e tinha resposta de meia dúzia deles.(Só mandei para meia dúzia mesmo). Todos me parabenizaram, e tomei esses parabéns como um abraço que todos impossibilitados de estarem aqui, me deram. Porem um amigo, sábio nas idéias, não parabenizou. Ao invés disso, mandou o seguinte comentário: “Que mané livros.... repara é nas tchutchucas.” Dei risada e segui em frente.
Como vocês todos sabem o que é uma tchutchuca, não vou me dar o trabalho de explicar. Porem na quinta feira passada as 05:30 da manhã, sentado num banco xexelento da rodoviária voltei a pensar nesse assunto. Cheio de remela no olho ainda, comecei a reparar em quem também esperava pelo ônibus para Paraty. De lá para a FLIP não parei. Pude ter o prazer de olhar todas, solteiras, namoradas e balzacas. Digo prazer porque estou fechado para balanço. Tirando a comida, foi só olhar. E digo a vocês que foi muito bom. Num evento de literatura, encontrei varias pessoas interessantes e admito que outras também me acharam interessante. Pude assistir grandes mesas de debates (para mim foram duas), como a do Amós Oz, que com sua linha pacifista e inglês pausado, pode conquistar a cidade. A fila de autografo estava gigantesca. Um senhor de idade já, cansado de dar autógrafos escrevia Amos e pronto. Como tietes quando celebridades vão para algum lugar no interior do Brasil, na FLIP foi assim. Ou senão o escritor bonachão Will Self, inglês em corpo de Kramer do Seinfeld. Sarcasmo puro, não poderia ser mais engraçado. Mas também não consigo descrever. Vale a pena procurar seus textos.
Podem ter certeza que não parei de reparar nas tchutchucas, ate o dia de ir embora. Ia e vinha desde o cafofo onde fiquei até a tenda principal reparando nelas. Que nada de filosofar ou saber quem é o melhor escritor. Ia tropeçando nas ruas desniveladas de Paraty, mas não tirava o olho. Confesso que uma me chamou mais atenção, cruzamos olhares ardorosos por poucos segundos, mas encheu meu peito de esperança. Pode ser que ela tenha sumido na multidão que zanzava sem parar pela cidade, mas valeu o momento.
E você se pergunta o que tem a Nhá Benta a ver com isso? Pois bem, a Nhá Benta não é nada mais do que um delicioso creme de marshmellow no interior, coberto por uma fina camada de chocolate e com um leve biscoito embaixo. Quem come se lambuza. Os mais recatados sujam o canto da boca, mas lambem com a língua para não perderem um momento sequer. Posso dizer que vi as tchutchucas dessa maneira, não pejorativamente, como nunca li. Sábias palavras que transmutaram comigo ao longo de quatro dias. Algo delicioso, inigualáveis em seus cheiros, em seus olhares, em seus corpos. Parabéns a elas que alimentam minha imaginação conturbada.
Voltei da oficina confuso em definir o que é crônica ou o que é conto. Mas concordei que o Dapieve conhece de musica. Leram algumas crônicas interessantes e outras nem tanto, que nem prestando a maior atenção elas fluíam para dentro do cerebelo. Também me pareceu ter gente muito esforçada e lírica em seus contos, poesias e crônicas. A mim, só d’s é quem sabe. Vou continuar a divagar. A você, que desfrute. E com licença que eu vou comer uma Nhá Benta.
1 Comments:
"Fechado pra balanço"??? E a amiga tchutchuca que eu ia te apresentar? Perdeu minha festa e a oportunidade de uns amassos na cozinha! eheheh
Adorei o texto e a história da FLIP.
Beijos,
dea
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