Sabores
“Da mesma forma que pessoas vão, outras chegam e tornam a indiferença da angústia mais branda e excitante. Excitante pelo fato, que essas novas preenchem de alguma forma a solidão latente da perda momentânea dos queridos. Picante seria dizer que o azedo das antigas relações torna-se o doce das novas relações. Pois quem demonstra amargura desde cedo, continuará da mesma maneira, como sempre esteve. Literalmente salgado”.
C. tinha acabado de ler esse breve relato intitulado de “Sabores”. No parque, a luz reluzia por detrás daquela palmeira imperial, refletindo no pequeno espelho d´água, sua figura disforme. Não tinha dormido ontem e seus olhos pesavam e lacrimejavam. O excesso de casacos e roupas a ajudavam a esquentar o afago imaginário de sua cabeça. A metamorfose que sofrera no último ano permitia observar melhor as coisas. Como num livro que escapa das mãos, pensou em cada um dos sabores que já sentiu e sorriu.
Nunca tinha experimentado sensação parecida. Um gozo solta particulas condensadas na atmosfera, uma partida dissocia sua raiz, permitindo experimentar o caule, sempre correndo atrás da flor. No caso de C., o girassol. Mas essa época do ano é difícil de encontrar. Foi por isso que C. escolheu a data. Não queria partir sendo observada pelas flores que cresceriam no jardim. Da mesma maneira que o sol nos acompanha, elas me acompanhariam. Dissimulada que é, não suportaria o constrangimento da partida.
O medo exorbitante do futuro inflava suas narinas geladas de excitação ao respirar. Tirava o cachecol diversas vezes, ao compasso que o taxista buzinava e esperava impaciente o terminar do ritual, fumando seus cigarros de enrolar enquanto não bebia seu mate efervescente.
Por essas e outras situações, que C. se encontrava no ponto onde tudo isso que viveu até agora começou. Onde o primeiro olhar furtivo se encontrou, onde o primeiro beijo lhe foi roubado, onde fumou seu primeiro cigarro escondido se exercitando no pedalinho. Onde cada sábado caminhado por suas árvores, transmitia o saber e fidelidade que encontrava em copas coloridas de diversas tonalidades.
Foi assim ao caminhar por entre pequenos morros e depressões que cortavam seu caminho de terra batida. Olhou tudo a sua volta e viu nos prédios antigos do velho bairro, a reflexão de uma vida que começava agora. Respirou. Respirou fundo.
Correu. Correu sem parar até o lago semi congelado, aonde a fumaça da manhã encobria os pequenos patos encolhidos que teimavam em nadar.
Pegou sua cópia de “Sabores”, e releu mais uma vez. Singelamente colocou-a sobre o espelho d´água. Primeiro flutuando e depois sendo absorvida por aquela água azul turquesa. Foi caminhando até o final do lago, sempre o margeando, acompanhando o fluir de sua cópia. Passou pelo largo pórtico que dava boas vindas àqueles que chegavam ao parque. Foi caminhando sem olhar para trás e entrou no táxi. Partiu. Partiu sabendo que deixara no passado, sua Redenção.
Nunca tinha experimentado sensação parecida. Um gozo solta particulas condensadas na atmosfera, uma partida dissocia sua raiz, permitindo experimentar o caule, sempre correndo atrás da flor. No caso de C., o girassol. Mas essa época do ano é difícil de encontrar. Foi por isso que C. escolheu a data. Não queria partir sendo observada pelas flores que cresceriam no jardim. Da mesma maneira que o sol nos acompanha, elas me acompanhariam. Dissimulada que é, não suportaria o constrangimento da partida.
O medo exorbitante do futuro inflava suas narinas geladas de excitação ao respirar. Tirava o cachecol diversas vezes, ao compasso que o taxista buzinava e esperava impaciente o terminar do ritual, fumando seus cigarros de enrolar enquanto não bebia seu mate efervescente.
Por essas e outras situações, que C. se encontrava no ponto onde tudo isso que viveu até agora começou. Onde o primeiro olhar furtivo se encontrou, onde o primeiro beijo lhe foi roubado, onde fumou seu primeiro cigarro escondido se exercitando no pedalinho. Onde cada sábado caminhado por suas árvores, transmitia o saber e fidelidade que encontrava em copas coloridas de diversas tonalidades.
Foi assim ao caminhar por entre pequenos morros e depressões que cortavam seu caminho de terra batida. Olhou tudo a sua volta e viu nos prédios antigos do velho bairro, a reflexão de uma vida que começava agora. Respirou. Respirou fundo.
Correu. Correu sem parar até o lago semi congelado, aonde a fumaça da manhã encobria os pequenos patos encolhidos que teimavam em nadar.
Pegou sua cópia de “Sabores”, e releu mais uma vez. Singelamente colocou-a sobre o espelho d´água. Primeiro flutuando e depois sendo absorvida por aquela água azul turquesa. Foi caminhando até o final do lago, sempre o margeando, acompanhando o fluir de sua cópia. Passou pelo largo pórtico que dava boas vindas àqueles que chegavam ao parque. Foi caminhando sem olhar para trás e entrou no táxi. Partiu. Partiu sabendo que deixara no passado, sua Redenção.
1 Comments:
quem é C. ? parece que foi pra mim, mas como vc saberia que estoua sentir isso tudo, dessa forma??? haa vc é um bruxo, né, saquei... hehe ou devo ser muito transparente. ou na verdade, essa C> seja vc mesmo, um de tantos de você. Nos atores, sempre com tanto para descobrir. Sim. Os sabores, e o sabor de minha redenção. Difícil mas talvez o melhor e mais verdadeiro de todos. Se assumir, numa selva ou num lago, não faz diferença pois muitas vezes o que dá mais medo está dentro de nós. O medo do novo e o sabor picante do novo!
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