sexta-feira, maio 26, 2006

Aguenta!

Eu não fui o único a te avisar. Pelo menos outros três te falaram a mesma coisa. Vai com calma, devagar, sente o clima, dizemos um de cada vez para ficar gravado em sua memória. Mas não, você foi aos trancos e barrancos, não pesou as conseqüências. Ansiosa, angustiada, teimosa, não parou de fumar um minuto sequer. E a bebida???? Nem preciso falar. Um drink após o outro sem ter tempo de beber água para contrabalançar o efeito terrível do álcool. Pelo contrario, sua ansiedade esqueceu o estomago vazio e potencializou seu estado etílico. Por vários minutos sentiu-se dona de si. Já com a resposta na ponta do língua. Achou-se a mais poderosa do lugar. Mas tudo bem, o momento era nobre. Se ele já tinha se declarado, caberia a você consumar o fato e começar o relacionamento. E é claro, que foi isso que aconteceu.

Nunca passara por sua cabeça após anos de trocas de olhares. Sempre achara um flerte saudável, que recompensava cada ida aquele lugar. Você se postava ao lado do telefone publico e ele, com os amigos, do outro lado da rua, bebendo sempre a mesma cerveja em garrafa, a Original. Original era o que passava em sua cabeça quando te contou o que pensava todas as vezes que seus olhos se cruzavam. Não cabe a mim repeti-los, pois para mim, mero coadjuvante, não acrescentará nada de importante. Talvez só me vacinara contra futuras conversas. Mas e aí? Se tiver interessada, vou engolir a seco e vou continuar sorrindo e dando condição. Afinal de contas todos estão possíveis a erros. Só não pode extrapolar né, amiga?

O fato foi consumado, um conto de fadas foi montado e se passaram meses e meses, num estado ébrio dotado de dias ininterruptos de sol, sorrisos, vastos campos de girassóis e felicidade. O mundo exterior passou a ser uma mera vitrine de loja de departamento que é trocada de tempos e tempos e só te chama à atenção quando você quer. O seu distanciamento foi normal. Todos queriam seu bem e apoiaram sempre suas decisões, nos raros momentos de encontros, em nossos chopes intermináveis. Mas lembra-se que, todos pincelavam o assunto, para te dar um leve toque na consciência?

Aí quando você menos esperava, aconteceu o que todos temiam. A separação! Simples, normal, sem gueri-gueri nenhum. Todos já vimos outras centenas iguais, desde amigos, familiares a novela das oito e filmes hollywoodianos. Mas você ainda não tinha visto acontecer contigo. Aí que veio o problema. Se nos primeiros dias você foi forte o suficiente, levantou a cabeça e seguia com um sorriso eufórico na cara, não posso dizer a mesma coisa quando a vi naquela manhã chuvosa de maio quando você pediu para que te encontrasse no café perto da farmácia. Sua cara amassada, seus cabelos embaralhados, suas roupas desconexas e sua voz chorosa logo denunciaram seu estado de quase putrefação. Não fiquei assustada com o que vi. Apesar de não querer acreditar, algo dentro de mim vinha se preparando para esse dia. Evitei falar o máximo possível. Suas lagrimas escorriam pelo rosto e caiam sem parar sobre a mesa. Seria certo se misturar com o que caia do céu, levando pelo ralo e bueiros da cidade sua insatisfação com a vida naquele momento.

Por mais de hora, escutei com carinho o clamar por um ombro amigo. A desculpa pelo mergulho sem fim do relacionamento recém terminado irão te deixar profundas marcas nesta vida. Com uma cicatriz que teima em se fechar, saberá ter o freio inconsciente do futuro que te espera. Mas sinceramente, o que foi que eu te disse? Agora aguenta!