Singelos envelopes
“A retórica da lembrança faz com que o esquecimento nunca termine, a não ser que se haja motivo aparente para apagá-lo”.
Foi com essa frase que ele me mandou a última carta. Permaneci com ela no colo por alguns minutos até relê-la por mais uma vez. Essa historia de análise por correspondência estava se tornando um vicio. Há meses mandei um poema meu a ele e desde então, como no século XIX, a cada final de mês chega uma resposta dele. Na verdade, cada resposta é uma surpresa. Aguardo ansiosa por definições, estratégias e um por um simples sopro de conforto. Definições daquilo que escrevo e que não tem sentido. Estratégias de um sentimento perturbador que não consigo dominar e conforto, acima de tudo. Conforto esse que serve como uma porta segura para meu bem estar.
Falo isso, porque estou aflita. Tensa e angustiada por ver tudo passar e não alcançar meus objetivos como mulher. Procriar talvez, mas enamorar-se sempre. Me sufoco por não conseguir tencionar minha palavra. Tudo que sai da minha boca é esquisito aos meus ouvidos. Como uma fita distorcida num rádio quebrado. E assim que me sentia antes de conhece-lo.
Falar que nutro uma paixão platônica por ele é ser sincera o bastante para levantar a cabeça e ser cobiçada por muitos num lugar publico. Ou seja, é fato. Agora quem é esse que me conhece tão bem, mas ao mesmo tempo nunca me viu, a não ser por fotografia? Como alguém longínquo me consome sexualmente todas as noites em meus sonhos? Quem é esse que invade minha intimidade nos momentos mais inoportunos.
Toda vez é a mesma coisa, leio, paro e reflito. Depois me fecho em meu quarto e apesar dos prazeres e coisas boas que sempre vem junto na carta, fico incomunicável por horas até adormecer. Como um ritual, anseio por suas novidades antes de ler o que ele me propõe.
O incrível é que ele me dá forcas para seguir em frente. Deixar o passado para trás, o futuro para frente e enxergar o amanha como hoje de modo que houvera ontem. Difícil entrar na minha cabeça. Qualquer pequeno problema, sou a perseguida, a usada, a mal, a incompreendida. Isso nos dias que antecedem a carta, como uma TPM sempre constante. A carta é o remédio para a cura de minha cólica, da minha indisposição com qualquer um. Preciso te escrever que sinto sua falta. Sinto a falta do teu cheiro, do teu perfume de Chipré especiarado, com notas de cravo-da-índia, artemísia, patchouli, jasmim, e baunilha, e do seu incenso que nunca acaba. Aquela fumaça contínua ao nosso redor.
Sinto também pelo simples fato de você não ter movido uma palha para que eu desse certo. Sempre suas prioridades como homem, depois as minhas secundarias. Por isso, hoje sou uma amarga sorridente. Respeitável em meus vinte e poucos anos, cicatrizada por tudo aquilo que me arranhou, pronta para um próximo devaneio. E você que me escreve mensalmente, é meu salvador, meu confidente, meu ensaísta. Tudo que mudei agora agradeço a você. Bendito ou maldito dia que conheci seu endereço.
Os envelopes já estão prontos e selados, porém abertos, esperando por mais algumas páginas minhas, escritas a mão. Os tenho em cima da minha mesa de estudar. Ao lado das minhas fotos preferidas, onde guardo tudo aquilo que me faz bem. E nesse momento, você me faz bem. Então tome um pouco de coragem e venha me visitar. Venha descobrir que a minha fragilidade é interna e o desespero é um de meus pontos fracos. Venha descobrir que não há nada mais interessante que um vinho tinto e um sorriso mal intencionado a me fitar.
Com essas duras revelações, lambo as pontas do envelope e ponho na caixa do correio. Daqui a 30 dias, esse mesmo pedido de ajuda será revelado novamente, até se chegar o dia que tomarei coragem e deixarei de colocar o meu endereço no destinatário.
Foi com essa frase que ele me mandou a última carta. Permaneci com ela no colo por alguns minutos até relê-la por mais uma vez. Essa historia de análise por correspondência estava se tornando um vicio. Há meses mandei um poema meu a ele e desde então, como no século XIX, a cada final de mês chega uma resposta dele. Na verdade, cada resposta é uma surpresa. Aguardo ansiosa por definições, estratégias e um por um simples sopro de conforto. Definições daquilo que escrevo e que não tem sentido. Estratégias de um sentimento perturbador que não consigo dominar e conforto, acima de tudo. Conforto esse que serve como uma porta segura para meu bem estar.
Falo isso, porque estou aflita. Tensa e angustiada por ver tudo passar e não alcançar meus objetivos como mulher. Procriar talvez, mas enamorar-se sempre. Me sufoco por não conseguir tencionar minha palavra. Tudo que sai da minha boca é esquisito aos meus ouvidos. Como uma fita distorcida num rádio quebrado. E assim que me sentia antes de conhece-lo.
Falar que nutro uma paixão platônica por ele é ser sincera o bastante para levantar a cabeça e ser cobiçada por muitos num lugar publico. Ou seja, é fato. Agora quem é esse que me conhece tão bem, mas ao mesmo tempo nunca me viu, a não ser por fotografia? Como alguém longínquo me consome sexualmente todas as noites em meus sonhos? Quem é esse que invade minha intimidade nos momentos mais inoportunos.
Toda vez é a mesma coisa, leio, paro e reflito. Depois me fecho em meu quarto e apesar dos prazeres e coisas boas que sempre vem junto na carta, fico incomunicável por horas até adormecer. Como um ritual, anseio por suas novidades antes de ler o que ele me propõe.
O incrível é que ele me dá forcas para seguir em frente. Deixar o passado para trás, o futuro para frente e enxergar o amanha como hoje de modo que houvera ontem. Difícil entrar na minha cabeça. Qualquer pequeno problema, sou a perseguida, a usada, a mal, a incompreendida. Isso nos dias que antecedem a carta, como uma TPM sempre constante. A carta é o remédio para a cura de minha cólica, da minha indisposição com qualquer um. Preciso te escrever que sinto sua falta. Sinto a falta do teu cheiro, do teu perfume de Chipré especiarado, com notas de cravo-da-índia, artemísia, patchouli, jasmim, e baunilha, e do seu incenso que nunca acaba. Aquela fumaça contínua ao nosso redor.
Sinto também pelo simples fato de você não ter movido uma palha para que eu desse certo. Sempre suas prioridades como homem, depois as minhas secundarias. Por isso, hoje sou uma amarga sorridente. Respeitável em meus vinte e poucos anos, cicatrizada por tudo aquilo que me arranhou, pronta para um próximo devaneio. E você que me escreve mensalmente, é meu salvador, meu confidente, meu ensaísta. Tudo que mudei agora agradeço a você. Bendito ou maldito dia que conheci seu endereço.
Os envelopes já estão prontos e selados, porém abertos, esperando por mais algumas páginas minhas, escritas a mão. Os tenho em cima da minha mesa de estudar. Ao lado das minhas fotos preferidas, onde guardo tudo aquilo que me faz bem. E nesse momento, você me faz bem. Então tome um pouco de coragem e venha me visitar. Venha descobrir que a minha fragilidade é interna e o desespero é um de meus pontos fracos. Venha descobrir que não há nada mais interessante que um vinho tinto e um sorriso mal intencionado a me fitar.
Com essas duras revelações, lambo as pontas do envelope e ponho na caixa do correio. Daqui a 30 dias, esse mesmo pedido de ajuda será revelado novamente, até se chegar o dia que tomarei coragem e deixarei de colocar o meu endereço no destinatário.
2 Comments:
“Agora quem é esse que me conhece tão bem, mas ao mesmo tempo nunca me viu, a não ser por fotografia?"Eu mesma poderia ter escrito esse "envelope" (se soubesse o como, é claro :-)
Já tenho lido varias vezes e não sei se é simples literatura (certamente da boa, mas deixo para te comentar depois)ou se tudo isso que esse relato acorda em mim, não é uma simples coincidência.
Fico com vontade de pegar um avião agora mesmo (como já tantas vezes pensei e desejei),para conhecer meu amigo, um surpreendente escritor com quem adoraria beber um bom vinho ou até uma absinta, e deixar a noite ficar interminável numa conversa que não quero deixar apagar.
Um beijo,
tua amiga de cravo e canela
ta ficando melhor...
A intensidade da sensibilidade no seu texto...
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